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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Primeira parte

Era julho. Como eu me lembro? Fazia muito frio. Impossível esquecer. Mais cedo, no noticiário, a mulher do tempo já havia anunciado que viveríamos a noite mais fria do ano. Só ouvi isso. Saí do cômodo onde eu estava, passei pela minúscula sala e antes de sair desliguei a tv. Não dei tempo para a mulher do tempo completar seu comentário de como uma noite desta poderia ser aproveitada. Bati a porta e dei apenas uma volta na chave. Normalmente eu daria duas, mas para não cair na tentação de retornar para dentro e desistir, logo tirei a chave do seu encaixe.Naquela noite eu estava nervoso, minha mão tremia e eu mal consegui enfiar a chave na fechadura.
Caminhei alguns quarteirões. As ruas ainda estavam movimentadas. Olhei um relógio eletrônico, destes instalados no centro da cidade, e verifiquei que ainda não era nem dez horas da noite. Quinze pras dez, para ser mais exato. Hora boa. Com certeza os dois estariam em casa. Se desse sorte encontraria os dois se amando sob um edredom grosso. Mas se bem que não! Dependendo da intensidade da transa dos dois poderia ser dito que o lugar mais quente da cidade era o quarto aonde o ato era consumado. Ri deste pensamento tolo. Por um instante me distraí e permiti meu cérebro se inundar em outras imagens que não a dos dois corpos, jazendo mortos, sobre a cama, nus certamente. Um misto de pavor e fixação contaminavam meu sangue, cada vez que esta imagem surgia na minha cabeça. E, em alguns instantes, eu sentia náusea. A ideia de ser um assassino não era muito querida por um corpo que se recusava pisar em uma barata.