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sábado, 15 de janeiro de 2011

dia chuvoso, no banco da praça

O senhor não é muito de falar não é? Eu também não. Deixo pra falar o que realmente precisa, mas é que estes dias tem me batido uma aflição, uma vontade conversar com alguém. O senhor já deve ter passado por isso, pela sua cara eu vejo que já. Parece que está escrito na sua testa! Coisa de louco! Puxa vida! O senhor tem horas? Eu perdi o meu relógio e tenho medo de me atrasar. Perdi também os meus documentos! Puxa vida! Como é que se vive hoje em dia sem documentos. Sem conseguir provar que você é quem você é. Bem verdade que eu também não sei quem eu sou! O senhor também não, né? Dá pra ver na sua cara que o senhor também não sabe, mas, quem se importa? Eu não me importo. Não sei meu nome, minha idade, de onde eu vim! O documento que sabia. Me bate uma aflição pensar numa coisa destas, puxa vida! O senhor não é muito de falar, não é? Eu também não. De falar eu não gosto muito. Mas de contar histórias... ah! Isso eu gosto. Provar quem eu sou eu não posso, de falar muito eu não gosto, casa também faz tempo que não tenho, agora, história na cabeça eu tenho um tanto. Dá até medo! Elas ficam borbulhando aqui dentro feito água na chaleira e tem uma hora que a coisa toda derrama e aí, senhor, aí...