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sábado, 20 de dezembro de 2008

Eu passei na primeira etapa da UFMG. O que isso significa? Significa que tenho mais um mês de cursinho preparatório para conseguir ser aprovado na segunda etapa do concurso. MAS, claro, o significado não se limita a isto. Vai além. Ultrapassa a alegria de ver um nome esquisito, iniciado com 'R' na lista de aprovados e esbarra com um realismo triste, que eu já citei aqui: continuo na minha vidinha de acordar às 05 da manhã.

Contudo, caro leitor, ir para o cursinho não é tão efadonhante. Tem lá sua parte divertida que recompensa acordar antes mesmo do galo: O ônibus. O ônibus das 05 e 40 é uma experiência que todo mundo deveria vivenciar. Ali se aprende ser humilde, paciente, mal, sarcástico, esperto e a como você não deve sair vestido às 05 da manhã.

Vou iniciar uma seqüênicia de cenas cotidianas do 3293, ônibus ferrado que me leva para BH todos os dias.

CENA 01. ÔNIBUS. INTERIOR. DIA.

Chuva forte lá fora. Raysner ali,no último banco do ônibus, com uma cara de cú, fingindo ler um livro de normas para publicação técnico-científica, quando, de repente, uma mulher, um puco mais a frente, dispara:

MULHER - Caralho, eu tô atrasada!

'Todos estamos'. Pensa Raysner.

MULHER - Caralho, eu sei que estou atrasada!

Raysner resolve ver o que está acontecendo. Olha pra frente e vê a mulher falando ao celular.

MULHER - Caralho, eu tô estressada. Não quero falar no telefone. Caralho, tá chuvendo. Caralho! Cê num tá vendo que eu tô estressada! Caralho, eu já disse que tô chegando.

Raysner pensa: Caralho só pode ser algum infeliz! Todos no ônibus ficam a observar a cena. A Mulher não se enibe.

MULHER - Caralhoooooo... eu vou ter que pegar um táxi. Caralho, cê tá vendo que eu não quero falar no celuar. Caralho, eu desligo em... Que porra, caralho!

Raysner conclui: CARALHO SÓ PODE SER ALGUÉM.

sábado, 26 de julho de 2008

Tio Raysner e suas desventuras...

Ontem meus pais comemoraram 21 anos de casados.

Considerando as estimativas para uma relação na modernidade, os dois pombinhos estão batendo recordes e mais recordes. Ao todo são quase três decádas juntos (se levarmos em conta os seis de enrolação). E eu acho isso tão bonito e até sinto orgulho de vê-los assim, tão unidos e enamorados depois de tanto tempo.

O meu pai tem uma pinta de malandro, mas é um homem romântico. Se eu tivesse o mesmo faro para mulher que ele tem, na certa não passaria tanto tempo encalhado. O homem era o Dom Juan lá da 'Portelinha' onde ele cresceu. Se arranjava com toda a mulherada. Pelo menos é o que ele e minha mãe contam. Todavia, se levarmos o padrão de qualidade dele... Enfim! Ainda bem que ele encontrou minha mãe.

E o romantismo do meu progenitor é exacerbado. Ele é daqueles homens que compram flores, tratam a esposa como princesa e onde quer que vá está acompanhado dela. Parece que aquele ar de inicio de namoro nunca se perdeu no relacionamento dos dois. O problema todo está só na forma que ontem ele escolheu para demonstrar o seu sentimento...

A tarde já se ia quando meu celular toca:

-- Oi, pai.

-- Tudo bom, Raysner?

-- Tudo pai.

(Raramente ele me liga a tarde e ainda por cima do serviço. Quando este evento ocorre pode esperar: lá vem bomba!)

-- Tá precisando de alguma coisa pai?

-- É que Home Theather já está disponibilizado lá na Autorizada. pode ir lá buscar?

-- Posso sim pai. Só isso?

(Ah...Essa minha boca! Por que eu não desliguei na hora?)

-- Ô Raysner...Que é que você vai fazer mais tarde?

-- Ah, pai! Nada.

(Isso porque era noite de sexta feira, em pleno mês de férias!)

-- Então...Não sai não.

-- Por que pai? Vocês vão sair hoje?

-- Não. Por que eu preparei uma surpresa pra sua mãe! Quer dizer, pra homenagear nós dois.

-- O que pai?

-- Contratei um carro de Mensagem...

-- AO VIVO?

-- É!

-- Com foguete e tudo?

-- E cesta mais 4 músicas! - e como se estivesse me contando que tinha ganhado na loteria - Uma foi brinde!

-- Ah não pai!

-- O que?

-- Nada, nada!

-- Ah, Raysner! Me deu vontade. Vai chegar aí em casa por volta das nove. Daí, fica em casa pra estar lá com a gente na hora em que eles chegarem. Avisa o Randyner!

O mundo parou naquele momento. Sim! Eu ainda tenho destes acessos infatalóides, típicos dos adolescentes, que quase me matam quando meu pai resolve 'diferenciar' o seu comportamento. Pior que a notícia da cárie, dada pelo dentista a alguns meses atrás, foi só este comunicado dele. Meu estômago deu um solavanco e eu comecei a arquitetar planos para estar longe de casa às nove. Não podia ser proposital. Teria que parecer acidente, entende? Aí, comecei a pensar numa intoxicação, quebrar o pé, cortar um pulso ou, quem sabe, tomar um sonífero... Um não (tenho sono leve e aquele foguetório não ia ajudar em nada!), três (só para garantir).

Mas aqui em casa não tinha nem sonífero e cortar os pulsos é coisa de emo. Quebrar o pé já estava fora de cogitação: Tenho um espetáculo para estreiar daqui duas semanas. Não dá pra entrar em cena engessado. O negócio era se agarrar na folhinha e ter fé em Deus. O resto... Ah! Nem era tão ruim assim: Só trinta minutos de show no meio da rua.

E eis que o relógio marca 20:50. Faltam só dez minutos. O estômago estava ótimo. E a suadeira então? Super controlada! As pernas nem tremiam e o safado do meu irmão tinha zarpado. Minha mãe, coitada, gripada e com febre, já estava vestindo o pijama e meu pai insitindo para ela se arrumar para pelo menos 'ir ali, comer alguma coisa.' E eu, rindo nervoso, só esperando o carro - nada chamativo - chegar e aquele pesadelo de Kafka acabar. Acabei tendo que dar um pulinho na rua antes do príncipio do circo. Um casal de amigos meus me chamava.

E lá estava eu com meus dois amigos, na entrada do prédio, quando, lá na ponta do morro, surge ele, de giroscópio ligado, luzes de neon acessas e espalhadas por todo o véiculo, porta-malas aberto e executando uma música do Bruno e Marrone que, de tão nervoso, eu nem reparei qual era: Pronto! Não tinha mais como fugir... O carro de tele-mensagens chegara.

Quando se mora em prédio nada passa despercebido. Em menos de segundos, dezenas de janelinhas se iluminaram nos prédios vizinhos e o pessoal mais próximo dos meus pais se amontoou ali, na entrada do condomínio, para prestigiarem os pombinhos.

-- Gostaríamos de convidar aqui nossa amiga Helena. - disse o locutor.

E agora, além de luzes acessas, via-se cabecinhas de curiosos em todas as janelas. E nada da minha mãe sair para receber as homenagens.

-- Ela deve estar matando meu pai. - eu disse ao meu amigo.

-- Eu, no lugar dela, pedia divórcio. - disse minha amiga, quase tendo um surto de tanto rir.

-- No seu aniversário eu vou te mandar um, Mayara. Só pra me vingar. - eu disse a ela.

-- Eu nunca mais olho na sua cara, Raysner!

Não é a primeira vez que meu pai faz isso. Já é a terceira, se não me engano. A diferença é que sempre o carro espalhafatoso chegava no meio da festa do aniversário dela e aí virava bagunça porque ela e todos os convidados já estavam bebados. Era um tal de todos os amigos dela falarem, cantarem e se declararem que só Jesus. No entanto, ontem ela estava sóbria. E não tinha nenhuma festinha para todo mundo encher a cara. Agora era encarar na marra.

-- Helena... Onde está Helena?

Pois é! Onde estava Helena?

E eis que os dois surgem: meu pai e minha mãe. Íncrivel: ele não tinha nenhum arranhão.

As luzes do carro não se apagam. Um outro homem que veio no carro estoura os fogos de artíficio. O locutor retoma a atenção, lendo um texto padronizado que meu pai só teve o trabalho de escolher. E mais vizinhos se postam a observar, a Mayara quase morre de rir e eu ali, mais vermelho que um pimentão. De repente, mais fogos, mais uma música do Bruno e Marrone, um beijo dos dois, ali mesmo, no meio da rua e eu com um sorriso mais amarelo do que nunca. Quando parecia que tudo ia acabar...

-- O senhor não quer dizer umas palavras a ela? - o locutor perguntou ao meu pai.

E ele se declara pra ela. Ai! Se não fosse tão cômico seria até bonito. Os vizinhos aplaudem e o louctor dá a minha mãe direito de resposta. Até ali ela estava tão quieta que eu já estava achando que a vergonha havia paralisado todos os músculos do rosto dela. Sim, porque minha mãe não tinha mais expressão na cara. Era algo indefinido entre 'Ai, esse meu marido' e 'Vou te matar, Natinho!'. Porém, ela disse só isso...

-- Eu só tenho a dizer que também te amo muito e que essa data se repita ainda muitas vezes.

Novo beijo, Caetano canta 'Eu sei que vou te amar' no alto-falante, embutido no porta malas do carro, ela chora, os vizinhos ovacionam e o Kayky, o meninho de três anos aqui do prédio, faz uma gracinha no microfone, todo mundo acha graça e eu respiro aliviado... Ai! Acabou...

...Nada! Tinha mais um foguete e mais uma música (Eram 4!). Meu pai vai até o carro-circo e pega uma cesta para minha mãe. No fundo, no fundo, eu sei que ela preferia uma jóia, mas amou a homenagem. E, graças a Deus, o carro vai embora ao som de "Same Mistake", do James Blunt.

Os vizinhos que observavam se recolhem e voltam a suas vidinhas noturnas. Meus pais entram para casa. E eu fico ali.

O Marlon e a Mayara comentam algo. Eu, pensando:

"Pode até ter sido barangoso, rídiculo e brega. Mas está pra nascer pais mais apaixonados do que o meu... Até que no fim eu acho que gostei. Contudo, que isso não se repita no próximo ano." E me pus a rir daquele loucura amorosa do meu pai pela minha mãe.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Meus QUERIDOS AMIGOS


Então vocês têm mesmo de ir embora? Que pena. Não sabem o vazio que deixarão nas minhas noites de terça a sexta. Até me agradava dormir todos os dias depois da meia noite. Sabia sempre que não estava sozinho, afinal, os "Queridos Amigos" estavam por perto.
Foram 25 capítulos lindos, poéticos, tristes, bem estruturados e de uma produção impecável.
Ah! Como queria ter amigos na vida real como vocês! Nunca uma obra da teledramtugia me envolveu tanto. Perdi apenas a metade de um capítulo, infelizmente.
É claro que vi algumas falhas: acho que a minissérie acaba hoje sem sabermos como o Léo saiu sem nenhum arranhão daquele acidente de carro. Ah! Também não consegui digerir que tudo aquilo aconteceu num espaço de menos um mês. Aliás, talvez é na minha vida que não aconteça nada.
Contudo: Nada a reclamar! Foi tudo lindo. Queridos Amigos é a melhor obra da Maria Adelaide Amaral (que chique essa mulher!). E foi com ela que aprendi a não importar com a audiência. De fato, não é ela quem define um produto bom ou não. "QUERIDOS" merecia a audiência de Duas Caras.
Obrigado por este deleite.
Ah, se vocês não viram, aconselho: Comprem o DVD assim que sair (com certeza deve sair!). Todos nós precisamos vivenciar as lições desta família.
"SEI QUE NADA SERÁ COMO ANTES...AMANHÃ!"

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

DE FRENTE COM XANDINHO

Madrugada, quase duas da manhã. Luzes apagadas. Portas e janelas devidamente trancadas e conferidas. O casal Magalhães acaba de chegar de um romântico e agradável jantar de bodas. Quatorze anos juntos, tinham de comemorar afinal. Dona Vera quem escolheu o restaurante. Jantaram recordando todos os momentos felizes e deram risadas dos tempos de crise. Chegaram em casa com a sensação de que faltava algo para completar a noite. Pensaram (aos beijos): Amanhã? Sábado. Filho? Dormindo como uma pedra. Seu Álvaro já havia ido conferir e lhe deu um beijo de boa noite. Xandinho nem se mexeu. Dormia com a boca aberta, babando. “Deve ter dado um baita trabalho pra dona Bertha hoje, coitada!”.

Beija aqui, beija ali e caem na cama, aos risos. Dona Vera sente cócegas quando seu Álvaro lhe beija os pés e vai subindo, subindo, subindo...E encontra novamente a boca dela que lhe dá um beijo “sufocante”. Ambiente e clima todo preparado. Ao fundo, bem baixinho, uma música suave (a de quando o casal se conheceu) rodando no home theather. E um “Ai, amorzinho” pra cá e um “Ui, meu lobo mal, vem me atacar!” pra lá quando uma terceira voz, nada conveniente, ressoa:

— Você disse que me acordava assim que chegassem pra gente continuar jogando pai! Não honra sua palavra não, é?

Seu Álvaro saltou de cima de dona Vera que ocultou o corpo quase nu sob o lençol. Ela, pálida, quase sem ar. Ele gaguejando, fechando o zíper da calça e com a face vermelha, quase explodindo de constrangimento. Xandinho parado na porta, impassível, esperando uma explicação do pai.

— Você não estava dormindo menino? – perguntou o pai, recompondo-se desastradamente.

— Cochilando papai, cochilando. E não sou eu quem deve dar explicações por aqui. – lançou um olhar para mãe e lhe deu um sorriso meigo. – Bom dia mamãe! Como foi o jantar?

— Bom...Bom... di-dia meu filho!

— Olha se isso é hora de estar pensando em joguinho de computador moleque? Vá já pra sua cama Xandinho e aprenda a bater na porta antes de entrar! – grunhiu seu Álvaro. – Que mania feia de entrar sem pedir licença!

— Que mania feia prometer e não cumprir. – disse o menino.

— Ah! Vá!

— Amanhã o senhor acaba o jogo comigo?

— Acabo meu filho, mas amanhã. Agora vai pro seu quarto e durma. Entendeu? Durma. Caia de bode. Apague. Finja de morto.

— Agora perdi o sono. Estou muito agitado e quando estou agitado não consigo dormir.

— Quê? – indagou a mãe cética ao que acabava de ouvir sair da boca do filho.

— Isso mesmo! Dona Bertha disse que quando estou agitado não consigo dormir e esta situação me deixou um tanto quanto tenso. Papai mente muito, mamãe. Todo dia arranja uma desculpa e nunca brinca comigo. Hoje foi a gota d’água!

— Onde esse menino aprendeu a falar assim? – seu Álvaro surpreendido.

— Ando lendo muito papai.

— Eu avisei que era melhor dar uma bola de presente pro menino, mas você Vera, sempre discordando achou melhor dar uma coleção de livros. Deu nisso!

— Ah! Me poupe Álvaro.

— Mamãe, posso ficar aqui com vocês? Isto é, se eu não estiver atrapalhando nada...

— Não! Claro que não está atrapalhando nada Xandinho. Papai e eu já íamos mesmo dormir.

— Dormir? Conta outra. Acham que eu não sei o que estavam prestes a fazer? Iam fazer festinha!

Silêncio mortal. Pai olha pra mãe que olha pro filho.

— Que foi gente? Eu já tenho treze anos! Pensam que eu ainda acredito que a cegonha me trouxe?

— Temos que cortar a internet!

— E a televisão depois das dez!

— Não adianta. Aprendo tudo na escola.

— Tudo o quê?

— Tudo sobre sexo, pai. Vocês sempre tão quadrados.Deviam ser mais abertos ao diálogo.

— Vera, segunda mesmo você vai à escola conversar com essa professora pervertida. Onde já se viu? O nosso Xandinho...

— Álvaro!

— Vera!

— Pai!

— Os tempos mudaram, benzinho.

— O menino tem treze anos, Vera!

— Olha, é bom saber que vocês ainda têm vida sexual ativa. A mãe do Carlos já entrou na menopausa e vive com dor de cabeça.O pai dele tem de ir procurar mulher na rua.

— Segunda vou à escola, Álvaro. Sua professora também disse isso?

— Não. Falamos sobre isso depois da aula. Eu e os caras!

— Seu eu falasse uma coisa dessas com meu pai eu ficava banguela. Mais respeito, Alexandre!

— Gente, sexo é uma coisa tão normal. Sadia. Necessária.

— Mas não é para o seu bico, moleque!

— Eu já até tenho uma camisinha. Escondida na gaveta! Vai que um dia eu precise...

— Álvaro!

— Alexandre! – o pai lançou um olhar fulminante para o filho. – Já chega! – e, por fim, começaram a rir. – Meu filho já um rapazinho.

— E bem informado! Estou orgulhosa.

— Mas não é pra você saí por aí fazendo “festinha”. É muito, muito novo! - disse o pai. – Tem que arranjar uma pessoa legal, que também queira, criar compromisso e depois pensar no assunto, entendeu? Tem que respeitar a pessoa e os sentimentos dela.

— E revista de mulher pelada? Posso ter?

— Menino! – exclamou a mãe.

— Desde que não deixe ao alcance da sua mãe. – disse o pai, cochichando para o garoto, aos risos. – Mas ainda acho que você é novo pra ter sua coleção de Play Boy! Espera mais uns anos...enquanto isso continue nos joguinhos do computador. Agora vai pra sua cama...

— Ah não, mamãe disse que eu podia ficar! Deixa pra vocês fazerem o que iam fazer amanhã.

— Xandinho!

Dona Vera lançou um olhar para seu Álvaro que dizia “Concorde ou agüente as conseqüências!”. Deitou-se na cama, abraçado com a mãe. Fechou os olhos, sorrindo. Álvaro se deu por vencido. Vera, sem reação. O pai apagou as luzes do quarto e foi se deitar junto com a família.

— Papai, desligue também esta música. Ela me irrita, sabia?

— Você merecia uma surra por ser tão mimado, Xandinho!

— Álvaro!