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domingo, 31 de março de 2013

viu?

e foi aí que eu te vi.
te vi?
vi.
aí eu corri. 
(eu gosto tanto desta imagem de alguém que corre. num parque. a imagem de alguém que corre num parque, num dia nublado, frio, feito terça feira, atrás de uma miragem.)
não era miragem.
(ilusão. fantasma. alucinação)
não era!
eu te vi.
por isso eu corri.
(o parque vazio. quase ninguém.)
mas você estava lá.
não estava?
estava. 
eu te vi, passando, assim, por ali.
Ali ó.
(há um ou dois varredores. um vendedor de pipocas. uma senhora. um cão.)
Você.
(Você: este alguém que corre!)
não. eu não. não se trata de mim. se trata dela. a outra pessoa. há outra pessoa além de mim. eu a vi. e por isso eu corri. mas ela - a pessoa - foi mais rápida. se escondeu. se escondeu aonde, meu Deus do céu? este parque nem é tão grande assim? se escondeu por que?
(é terça-feira. o pipoqueiro quase não vende.)
eu devo estar vendo coisas.
talvez você nunca  tenha estado aqui.
no parque.
nesta tarde fria.
escura.
que parece terça.
ou esteve?
aqui, hoje?
agorinha mesmo?
antes de eu começar a correr?
esteve?
porque eu corri. 
(ele correu)
corri muito. olha minha bochecha! 
(vermelha. vermelha. vermelha!)
olha este suor.
(camisa ensopada.)
põe a mão aqui.
(é o coração que quase salta pela boca.)
isso tudo é porque eu te vi.
e você não me viu.
ou fez que não me viu.
ou.
você não me viu e continuou em frente.
e aí, para te alcançar, eu corri.
pelo parque que hoje está assim ó: vazio! só tem aqueles dois varredores, aquele cachorro, aquela senhora, eu e...
e ele corre.
(eu gosto tanto desta imagem...)

sexta-feira, 22 de março de 2013

E agora, José?

besta do coração que quis dar uma de valente e danou a tumtumbiar mais forte naquela lasquinha  de agora em que o seu olhar - vê só que coisa mais boba! - topou, por um acaso, assim, sem mais nem menos, com o meu olhar e  ambos decidiram fazer de conta que era a primeira vez que se viam. Fingiram um fingimento tão bem fingido que convenceram até a alma (aquela, coitada!, que vive tímida e recolhida no seu canto) de dar o ar da graça, toda estremecida e com as  bochechas enrubecidas, tomada por um desejo inexplicável de saltar a pele e encontrar você, em um abraço.

tamanha foi a danação que, mesmo já sendo noite, ainda não consegui aquietar nem a alma, nem o coração, tão pouco a  peste de um sentimento que surgiu  sei lá de onde, mas que agora diz querer viver aqui , do lado dos outros dois, e faz coro com o coração, que aos berros pede mais.  

pede mais o que?
.
.
.
Ah não!
Mas me façam um favor!
vejam se isso são horas...
vejam se isso cai bem?
olhem bem para o momento!
vão, vão!
Pode parar com estes gritos e tratem de se ajeitar.
Outra dia falamos disso.

Outro dia!