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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

questão de gravidade

queda?
não.
por você
o que eu tive
foi um tropeço.















P.S: caí de quatro, ao seu lado.
mas aí essa sua mania
de olhar sempre pro alto
que me deixou 
(por algum tempo)
desse jeito no chão.

sábado, 16 de novembro de 2013

etnografia de um marco polo de araque

Hoje resolvi dar uma volta ao mundo.

saí de casa 
fui andando
(andei até outra ponta ali da minha rua)
Cumprimentei uns vizinhos, 
Dei notícia pra dona Maura, 
expliquei o porquê do meu sumiço pra dona Maria
mexi com os cachorros que latiam irritados atrás dos portões
fiquei assistindo por um instante o futebol arte da meninada
e os primeiros namoricos das menininhas dali da frente
(que nasceram ontem mesmo, essas meninas)
(as duas filhas do Marcinho e a sobrinha do Amauri)
(tudo de namorico ali perto da goiabeira com os meninos lá de cima)

catei umas acerolas do passeio da casa Fátima.
A Gilda ali do lado insiste em varrer o passeio com a água
(se lá nela não tem gato, ela só pode ser sócia da Copasa)
(A Gilda perguntou se eu não queria que jogasse uma água aqui na frente do portão.)
(eu disse que sim e agradeci)
Você precisava ver o azul que derramaram no céu do meu bairro hoje de tardinha.

Quando parei pra pensar
(já de volta dada)
lá estava eu
(de volta ao meu)

ínfimo e imenso
(com um azul derramado no céu que, menino!)

mundo.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

climão

o céu sorriu um sol debochado 
depois de um demorado chororô 
nos ombros de beagá.

domingo, 13 de outubro de 2013

o pai era de dizer outras coisas também.
avulsas, ao vento, quase que do nada.

sentou-se comigo um dia
e me falou dessas coisas
que é no coração que se planta
pra gente ver germinar na vida

ele que pouco sorria, sorriu
quase que do nada

achei isso de uma boniteza sem fim.

sem fim.




sábado, 24 de agosto de 2013

Era o pai que dizia
que
tem gente, meu filho,
que só poesia!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

asneirice etílica.dois

então emprestou-lhe seu tempo. sentou-se junto dele, naquele velho boteco da esquina, pediram o de sempre para o velho garçom. a noite já se ia fria, em horas avançadas e pouca gente pelas ruas. então beberam "mais uma", a "só mais essa", a "saideira", a "última,juro!" e com os ouvidos atentos, lhe ouviu. escutou-o falar daquele, aquele outro, do mais bonito e inteligente e do magrelo que é tão assim, sei lá. riu também sobre o caso dele com o mais baixo, com o mais esperto, com cabeludo, com o poeta e até com "este aqui que entrou agora, acompanhado de uma moça, está vendo ele ali? não para de olhar pra cá." pediram a conta, acertaram tudo e ele quis ir ao banheiro. quando só naquela mesa, foi que um pensamento lhe assaltou:  no meio daquele todo mundo da conversa de agora pouco, percebeu-se como um nada, tipo zé ninguém, sem nome e sobrenome, nem história pra contar no meio de tantos amores, tanta gente, tantas coisas. E continuaria assim, a menos que se - não exalava álcool, exalava uma uma ingênua coragem - a menos que se. "então,vamos?", o outro disse. foram, eu lhes conto. dividiram um táxi até em casa. O ajudou naquelas escadas e com todo aquele chaveiro na hora de achar a chave certa pra entrar no apartamento. o outro, coitado,  fraco para bebida, foi chegando e já caindo, sem tirar nem mesmo o jeans. restou-lhe então certificar as trancas e as janelas, cobrir-lhe porque fazia frio e por fim da boca dele escutou um sussurro lembrava um "boa noite, obrigado. a gente se vê amanhã". foi aí que apagou as luzes, fechou todas as portas e saiu. 

sábado, 17 de agosto de 2013

diagnóstico

então constatou que lhe faltava estômago para tanta borboleta.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

avó(cices): sonho

Dia desses, já era tarde, foi num sábado, o passado, lá na casa da vó, ela virou pra mim, e disse com um sorriso de eternurar a alma:
- meu filho, tem um sonho pra você lá no forno do fogão que só estava te esperando acordar...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

do nascimento da Aurora

Então
daquela vez
era a vez
do era uma vez
a vez de Aurora.
Aurora que
(não nasceu Aurora,
mas)
nasceu Maria.
Maria da dona Augusta.
A da rua de baixo,
do bairro de cima,
da cidade ao lado,
que fica bem perto
de um lugar-nenhum,
de um aonde
que se anda-anda
e que nunca chega
mas continua andando
que um dia chega...
- foi a Maria
que virou Aurora
que veio de lá
que nos contou.

sábado, 20 de julho de 2013

asneirice etílica . um

assim,  já meio bobo, meio desalinhado, ele lhe disse:
"ah você..."
foi ignorado. 
se aproximou, trocando as pernas, com um sorriso de lado, olhos caídos...
"ah você..."
"você tá bêbado!", foi a resposta.
insistente, ele prosseguiu. 
"ah você."
"o quê que tem eu?
vai.
diga.
abra-se."
ele desfez o sorriso. alinhou o corpo.
equilibrou-se.
desabotoou a camisa.
com os dedos, escancarou seu peito fazendo maior a distância entre as costelas.
permaneceu ali, de peito aberto por alguns instantes.
deixou-se ser observado.
"viu?
 há você."
então fechou tudo o que tinha para fechar.
voltou a desequilibrar-se.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

acasificando

por acaso pensei
no que eu seria 
capaz
por um acaso -
eu disse um 
e não dois -
um acaso!
daqueles acasos
únicos
(por isso um
e não dois)
que põe a vida
pra tintilear
um tintilear tão bonito
que escorre pros olhos
goteja no músculo
(o tintumbiante)
aquele, o pulsante
não o que fica sem ar
depois de te encontrar
num aonde qualquer
na feira, na peça
sorrindo, cantando
no banho, no quarto
tudo assim
por um acaso.

domingo, 30 de junho de 2013

assassinato

desapaixonar-se
foi igual que nem
lhe tivessem dado
sete facadas
no peito
do seu eu-lírico.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

de Assis Benevenuto (https://www.facebook.com/assis.b.vidigal)


Se vimos tantas bandeiras levantadas durante esses protestos e manifestações - e veremos ainda mais - é porque é preciso força. A(s) situação(ões) ética(s) que estamos vivendo é de um enorme encobrimento com panos (quentes, frios, macios...). E mesmo cientes de que a Humanidade caminha, sempre caminhou, dessa forma, EI!, SEMPRE não é o nosso tempo. Precisávamos de um impulso maior, algo como um inconsciente coletivo que viesse à tona como num ato falho para que identificássemos essa força, nos identificássemos nas tantas diferenças. Nesse barco seguem os contra o preconceito, contra os impostos, contra os aumentos, contra a inflação, contra o desemprego, os contra o estupro, os a favor da descriminalização do aborto, da maconha, contra aos desvios Bilhonários, contra a propaganda de um brasil para estrangeiros, contra as ações autoritárias e higienistas das nossas políticas públicas, os contra o sistema que rege a política da cultura, da educação, da Saúde, os tão cansados e acostumados com a expressão "é assim mesmo", as pessoas que de alguma forma precisavam - e precisam - vomitar sua energia e suas vozes, mesmo sem saber ao certo qual alimento estragado comeram há dias atrás (anos, décadas, séculos). Se vimos tantas bandeiras levantadas durante esses protestos e manifestações - e veremos ainda mais - é porque somos um reflexo desse espelho quebrado chamado nação brasileira. Pedaços refratados.

Se existem tantos contras deve ser porque queremos SER A FAVOR! A FAVOR do ser humano que vive nesta época, que é número dos indicativos deste país e responde por ser brasileiro, a favor dessa gente que ri, que chora, que paga imposto, que come, que caga, que precisa ser feliz, que adoece, que sofre, a favor dessas pessoas, nós, que TEM DIREITO à educação, consciência política, ética, estética, a ter liberdade de ser e se entender como um ser pensante e atuante dentro de uma confusa sociedade.

Estão nas ruas por um mesmo motivo: dignidade. É preciso dar vazão. Depois, sendo o caso, pensemos em marchas diárias, cada dia com o seu tema. E mesmo assim, pelo jeito que a coisa vai e tomara que seja assim, no dia da manifestação dos direitos dos GBLT estarão presentes civis representantes da manifestação da educação, devidamente vestidos para a manifestação dos GBLT; No dia da manifestação a favor de uma melhor educação e salários dignos para os professores estarão presentes diversos representantes de outros movimentos, devidamente vestidos para a manifestação sobre a educação... Assim, poderemos criar uma agenda pragmática para saber com qual roupa sair de casa em cada dia. Pode ser... Mas, antes, é de extrema importância que o que nos una seja o reconhecimento, em ação, dessa insatisfação cidadã.

O fato é que acho muito cabível e verdadeira essa profusão de causas nessas manifestações que estamos vendo. Isso é a ponta do ice-berg - expressão tão usada que nem nos causa mais medo. O mundo e toda a gente precisa VER - já que dispara-se muito mais flashs do que tiros - como andam os tupiniquins, botocudos, tuparis, pirahãs, barés (...), terra do samba!

É preciso que essa gente toda que anda com suas 'distintas' causas aos berros e aos corpos pelas cidades nas manifestações se olhem nos olhos, reconheçam o seu semelhante nas suas diferenças: 'ei, você é a favor de tal liberdade (...), eu nunca pensei sobre isso. Mas você está aqui, frente a mim, vivo, me olha, grita junto comigo, me massacra com sua energia, chora. Isso deve ser importante para você.' 'ei, você está fumando maconha, pare com isso! - Ei você tá dando o cu, pare com isso!'. Estamos aqui. 'Seus hiprócrita!' - Ei, é hipócrita!' - Ei, eu não aprendi direito na escola, porque era uma bosta!' - 'Ei, a escola era uma bosta porque não tinha dinheiro, e o seu professor, aquele ali na frente ó, não tinha como dar aula!'. Estamos aqui.

E sempre alguma coisa irá fugir do 'controle', pois é da ordem também. Se nossos corpos estiverem em paz pelas ruas da cidade, certamente eles irão incomodar MUITO. A rua, do jeito que está, não nos cabe, não protege, não recebe, não nos quer bem. E por isso não incomoda o governo, porque nas ruas não podemos estar. Mas ela é pública, né? Pois, juntos, se nossos corpos estiverem em paz pelas ruas das cidades, certamente vamos incomodar muito. Porque seremos visíveis, porque nosso corpo ocupa lugar no espaço, porque nosso corpo responde a necessidades básicas de comer, cagar, urinar, ver, falar, estar. Escondidos somos números do CENSO; aparentes somos seres humanos, seres sociais a favor de dignidade, escola, hospitais, comida, verdade, menos impostos, deslocamento justo, planejamento sério, somos gays, trans, homo, poli, somos grávidas, somos inclusive uns que afetam os outros, que machucam os outros, que precisam estar uns com os outros para se organizar. Sabemos que NUNCA teremos as condições PERFEITAS. As reivindicações não querem isso, querem dignidade de ser.
Isso que está acontecendo, várias bandeiras juntas, me parece mais um espaço criado, um organismo, uma performance, do que apenas perda de foco. Nesse espaço dá-se também o desentendimento do que é certo apenas para mim, dá-se à força além da causa pessoal, do departamento ou sala a qual represento.

Estamos aparecendo todos de uma só vez. E isso é importante porque é um movimento, um auto-reconhecimento do outro, porque o que move é uma insatisfação que não encontrará sua causa lendo os jornais porque os jornais mentem muito, ou na educação porque a situação das escolas, ou em deus porque deus anda muito mandão e fatalista. Nessa massa heterogênea podemos acreditar nalgum tipo de ser humano que queremos vir a ser, nalgum tipo de governo que seja preciso para sustentar e ser sustado por essa ética.
Estamos aqui, todos. Estaremos nas ruas. Estaremos em casa. Estaremos dando aula, comendo, vendendo, viajando, votando, mijando, morrendo.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

danação

que boniteza
ai ai
te ver em sorriso
ai ai
quantos suspiros
ai ai
quantos tum tuns
ai ai
e quantos 'e se'
ai ai
e quantos não são?
ai ai
os que lhe diriam
ai ai
'que belo sorriso'
ai ai
pro meu dessossego
ai ai.
que coisa danada
(ai!)
cruel danação.






segunda-feira, 27 de maio de 2013

pílula

Só acho que deveria ser crime plantar pista falsa num fértil coração neurótico.

sábado, 4 de maio de 2013

nada não

e escorre-escorre o tempo
passa-a-vida que nem água
água que rola num rio violento
onde de braçada a gente nada
(e a gente, nada!)
nada?
nada de lado, 
nada de peito, 
nada de costas.
um nada sorrindo
mergulho chorando
respira menino!
não vai para lá
desconfia que ali
um ali bem mais pro meio
(um no meio deste rio)
pode ser bem mais profundo
(a gente pode não dar pé)
por tanto,
se nada por aqui
(nada por aqui!)
que assim é mais tranquilo
por ventura, mais seguro
é um sempre bem mais raso
pra que se arriscar?
(e por isso a gente-nada!)
(de braçada, de braçada.)

domingo, 28 de abril de 2013

eu escrevo pra você,
queria também assim, sei lá
te preparar um bom café,
eu te sirvo uma xícara,
e você num gole me lê...
'que coisa doce!',
é o que você me diz,
(é assim que eu imagino)
e eu sorrio, 
me empolgo,
até esboço alguma fala,
dos porquês, desta escrita
algo que dê nome aos bois,
pra que não haja nenhuma dúvida,
que sim, você faz morada em mim,
mas aí
me bate um pensamento,
algo que nem um vento sul,
um 'vai que' mais fora de hora
que é meio algo assim
não era sua escrita,seu zé mané,
doce muito doce quase um grude estava
era mesmo este café.

domingo, 21 de abril de 2013

desconfio

espia só! agora a coisa entre os dois mais parece um esconde-esconde...
'bom dia!'
'bom dia!'
'bonito dia...'
'bonito dia.'
'pois é!'
'é o outono'
'e este friozinho...'
'este friozinho...'
(...)
'a gente se fala.'
'a gente se vê.'
'quando eu te vejo?'
'a gente pode marcar...'
'claro.'
'então: vamos marcar...'
'vamos marcar!'
'qualquer dia desses...'
'a gente marca qualquer coisa...'
'um vinho...'
'um vinho!'
'pode ser um cinema também.'
'cinema! adoro cinema.'
'tem aquele filme...'
'qual filme?'
'o que estreou!'
'ah... aquele...'
'pois é. você comentou comigo naquele outro dia... como é mesmo o nome?'
'ah, é um nome duplo... como é que é?... Ah, esquece! a gente não vai lembrar.'
'pois é.'
'então, fica combinado: qualquer dia a gente marca!'
'qualquer dia.'
'maravilha!'
'maravilha!'
'ficamos assim. a gente se vê.'
'a gente se fala'.
e aí, eu olho para estas duas criaturas que se despedem num cruzamento qualquer, no coração da cidade, e concluo a coisa mais óbvia do mundo: falta-lhes uma boa dose de coragem.
mas espera!
um instante: olhe bem nos olhos daqueles dois. Repara naquilo que lembra uma faísca... Isso! Essa coisa que brilha.
sei lá, sei lá...
desconfio que isso é coisa daquele tipo de encantamento que transborda.
e que paralisa.
e que deixa a gente ir só até ali.
passar dali é somente se...
(um mundo de se)
mas a coisa fica refletida nos olhos.
essa coisa que transborda.
sabe como?
pois é.
desconfio...


terça-feira, 16 de abril de 2013

conversa dois

E aí, enfim, chegamos aqui.
"Aqui estamos", você me diz.
"Aqui estamos", então eu repito.
E a gente se encara, se entrega ao silêncio, uns minutos se arrastam e a coragem te toma.
Você me pergunta: "e aí?".
Aí que eu só penso. Ainda não falo. Falar o que? Falar o que eu penso?  
"Você não percebe?", é isso que penso. Penso, e não falo. 
Acendo um cigarro.
"E esse cigarro?", você me pergunta.
"Pois é: novidade!", eu te respondo.
"Desde quando?"
"Desde...", dou a primeira tragada. "agora".
Me engasgo com a fumaça.
"Você odeia cigarro."
Tenho um acesso de tosse. Você  percebe.
"Você não percebe?", eu te pergunto. Dou outra tragada e me engasgo de novo.
"Está errado..."
Você não percebe. Apenas ri.
"O jeito que você está tragando este cigarro..."
Não percebe ou tenta desviar do assunto.
"Está errado."
Apago o cigarro.
"Não nasci pra isso."
"Já desistiu?"
Eu desisti. 
"Deixa que eu te ensino"
"Não. Deixa."
Novamente silêncio.
"E aí?"
"Estamos aqui.", é o que eu respondo.
"Estamos."
"E aí?", sou eu quem pergunto.
"Agora eu percebo."
Eu te encaro. Os minutos se arrastam. Você tosse.
"Agora?"
"Me dá um cigarro."
Te dou um cigarro. Você acende.
"Põe uma música."
Ponho qualquer música.
"Esta!". 
Você dança. Eu observo. Você fuma. 
"Vem."
Eu não vou.
"Vem."
Continuo parado. Que bonito ver você dançar.
"Eu te ensino."
"Odeio cigarro."
"A dançar."
Você me toma pela cintura. Me conduz pela sala. A gente rodopia. Uma, duas, três vezes. Repetimos a música. Os minutos se arrastam. Você fuma o cigarro. Ele numa hora acaba. A música para e a gente se cansa. Olha um para o outro. A madrugada avança. Tem um resto de vinho, água, cerveja e suco também. Inventamos uma janta e rimos dos outros. Rimos de mim. Que foi aquela cena com o cigarro? Coisa mais boba. A janta está boa. Você me sorri. Eu retribuo. Amanhã lavamos esses pratos, arrumamos a cozinha. Do que é que falávamos? Nos entregamos ao cansaço. Estamos quase dormindo e eu ainda replico:
"E aí?"
E aí você me responde:
"Você que não percebe..."
Finalmente dormimos. Por ora, silêncio.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

ali, naquela sala, aqueles dois

reticências.
um mar de reticências.
um mar não porque, às vezes, um mar pode ser pouco.
assim sendo por que não um infinito?
um infinito de reticências.
entre os dois, ali, naquela sala.  
até que 
-- isso foi um suspiro?
eles não se olham. 
outro suspiro.
mais algumas reticências
só mais uma.
agora a última. 
e um ponto. o final.  

sábado, 6 de abril de 2013

conversa um

e agora?
é agora?
meu Deus!
há um instante eu ainda estava...
eu não sei se posso. posso? não tenho muito o que dizer.
na verdade, nada.
quero dizer: tenho uma coisa sim. mas é uma coisa pequena, rápida, dessas que se bobear nem vale a pena. sabe como?
insignificâncias...
é. pois é.
eu acho que ensaiei isso pouco.
este momento. este te encontrar, assim, por acaso, tomando alguma coisa... 
não!
que bobagem eu estou dizendo, meu Deus do céu.
na verdade eu nunca ensaiei isso! imagina se...
imagina eu,
de frente, para o espelho,
dizendo para mim mesmo,
assim, com a cara mais lavada que.
eu.
eu gostaria que você soubesse que.
eu.
no caso o eu do espelho não seria bem eu, até porque eu ele nunca foi. 
- não tem uma coisa meio assim de imagem virtual da gente mesmo? 
eu não sei bem, não entendo muito dessas coisas. - 
só sei que neste caso o eu ali do espelho definitivamente não seria eu.
seria você.
me observando dizer que.
que.
eu.
bem.
é.
como se diz?
digo,
acho que pensei pouco nisso.
minto.
eu pensei muito nisso. muito mesmo.
pensei de dia, de tarde e de noite.
pensei no ônibus, no banho, no almoço.
Via a novela pensando nisso.
lavava a louça pensando nisso.
tive que reler aquele livro,
na verdade,
este livro.
toma! é seu.
tive que lê-lo duas vezes.
porque, na primeira vez, olha que delírio
o que me dizia este amontoado de palavras, pontos e vírgulas 
senão sobre isso?
isso que quando eu pensava se transformava nisso
que me tomava as vistas, a boca, o sexo.
que me fez vir até aqui,
até você
para lhe dizer que.
nada disso!
na verdade, não é nada.
vim só te entregar o livro.
livro bom este seu. gostei da capa.
respiro e então é isso, muito obrigado.
outra hora a gente conversa
já está ficando tarde e eu
assim,
sabe como é
nem tenho o tanto o que dizer
porque nem ensaiei o suficiente
treze vezes de frente para o espelho e duas usando o meu cachorro para fazer o seu papel
não são suficiente
nem se pode chamar isso de ensaio.
dizer que me preparei para 
lhe dizer tudo isso que eu.
gostaria de lhe dizer
de verdade
agora.
e agora?
eu te amo.


(meu cachorro me olha como quem diz: pouca verdade nesta passada. vamos fazer mais uma pra ver se rola?
de novo!)

agora?

domingo, 31 de março de 2013

viu?

e foi aí que eu te vi.
te vi?
vi.
aí eu corri. 
(eu gosto tanto desta imagem de alguém que corre. num parque. a imagem de alguém que corre num parque, num dia nublado, frio, feito terça feira, atrás de uma miragem.)
não era miragem.
(ilusão. fantasma. alucinação)
não era!
eu te vi.
por isso eu corri.
(o parque vazio. quase ninguém.)
mas você estava lá.
não estava?
estava. 
eu te vi, passando, assim, por ali.
Ali ó.
(há um ou dois varredores. um vendedor de pipocas. uma senhora. um cão.)
Você.
(Você: este alguém que corre!)
não. eu não. não se trata de mim. se trata dela. a outra pessoa. há outra pessoa além de mim. eu a vi. e por isso eu corri. mas ela - a pessoa - foi mais rápida. se escondeu. se escondeu aonde, meu Deus do céu? este parque nem é tão grande assim? se escondeu por que?
(é terça-feira. o pipoqueiro quase não vende.)
eu devo estar vendo coisas.
talvez você nunca  tenha estado aqui.
no parque.
nesta tarde fria.
escura.
que parece terça.
ou esteve?
aqui, hoje?
agorinha mesmo?
antes de eu começar a correr?
esteve?
porque eu corri. 
(ele correu)
corri muito. olha minha bochecha! 
(vermelha. vermelha. vermelha!)
olha este suor.
(camisa ensopada.)
põe a mão aqui.
(é o coração que quase salta pela boca.)
isso tudo é porque eu te vi.
e você não me viu.
ou fez que não me viu.
ou.
você não me viu e continuou em frente.
e aí, para te alcançar, eu corri.
pelo parque que hoje está assim ó: vazio! só tem aqueles dois varredores, aquele cachorro, aquela senhora, eu e...
e ele corre.
(eu gosto tanto desta imagem...)

sexta-feira, 22 de março de 2013

E agora, José?

besta do coração que quis dar uma de valente e danou a tumtumbiar mais forte naquela lasquinha  de agora em que o seu olhar - vê só que coisa mais boba! - topou, por um acaso, assim, sem mais nem menos, com o meu olhar e  ambos decidiram fazer de conta que era a primeira vez que se viam. Fingiram um fingimento tão bem fingido que convenceram até a alma (aquela, coitada!, que vive tímida e recolhida no seu canto) de dar o ar da graça, toda estremecida e com as  bochechas enrubecidas, tomada por um desejo inexplicável de saltar a pele e encontrar você, em um abraço.

tamanha foi a danação que, mesmo já sendo noite, ainda não consegui aquietar nem a alma, nem o coração, tão pouco a  peste de um sentimento que surgiu  sei lá de onde, mas que agora diz querer viver aqui , do lado dos outros dois, e faz coro com o coração, que aos berros pede mais.  

pede mais o que?
.
.
.
Ah não!
Mas me façam um favor!
vejam se isso são horas...
vejam se isso cai bem?
olhem bem para o momento!
vão, vão!
Pode parar com estes gritos e tratem de se ajeitar.
Outra dia falamos disso.

Outro dia!




  



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

sábado, 26 de janeiro de 2013

conversa para ir-se longe II

Eu vou morrer, disse a menina.
Claro que vai, respondeu o aviador.  
Vou morrer antes do senhor - e lhe explicou - Vou morrer antes de ter metade desse tanto de vida vivida que o senhor carrega dentro do peito e que daqui eu vejo que pesa muito, que pesa um monte, pesa nos seus olhos cansados e no passo arrastado. Ai, como pesa! Vou morrer antes porque, ao contrário do seu peito, o meu peito é caixinha pequena, dessas feitas pra se guardar um tiquinho só de ar. Um tantinho assim - um quase nada. Por isso é bom eu não falar muito, assim, pelos cotovelos, pra não gastar muito do que eu tenho pouco. E isso desde pequena...

...Mas eita danação! Coisa besta dos diabos. Logo eu ter um prazo de vida tão pequeno e essa vontade de sei lá o que tão grande apertada dentro do meu peito, junto com um pouquinho assim de ar. A mãe sempre me diz que se eu deixar essa vontade de lado, essa bobagem de gente besta pra lá, eu bem que conseguiria viver  menos no sufoco, teria mais ar guardado lá, mas eita ideia besta esta da minha mãe (que ela não nos escute), mas você não acha?

Tem também as minhas pernas que, coitadas!, vivem ansiosas pra trilhar um caminho que vá para o oposto desta minha sina que, sei lá porque, foi ser logo minha. Valha-me Deus! Que ninguém nos escute (ai, ai,ai, não gosto nem de pensar nisso)(mas já que pensei, deixa eu te contar), vai que Deus se enganou e nada disso que me cabe tinha de ser meu? Nunca se sabe...Eita danação.  


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

conversa besta pra ir-se longe

- No que você está pensando?
- Em coisa nenhuma.
- Isso deve ser coisa de difícil pensação.
- Coisa nenhuma.
- Olha sua cara...
- Que tem ela?
- É cara de gente com pensamento grave, de pensação difícil.
- Para de olhar pra ela.
- Cê podia me ensinar.
- Te ensinar o que?
- Pensar em coisa nenhuma.
- Você já é gente pequena.
- Que é que tem?
- Não carece de aprender isso não. Já é do seu natural essa coisa nenhuma nas ideias.
- Coisa de gente grande.



terça-feira, 22 de janeiro de 2013


CENA I:
Uma mulher sozinha em uma sala de espera de um CTI. Tudo muito branco, limpo e arrumado. O silêncio que recai sobre o lugar é quebrado pelo ‘tic-tac’ dos ponteiros de um relógio instalado em uma das paredes. A mulher espera. Talvez, chore. Mas chore de forma contida, quase imperceptível, quase um não choro. Talvez um ou dois soluços e mais nenhum barulho além do som produzido pelo relógio...
Até que entra Marta e rompe com toda esta ausência de cor e de sons da cena. Ao entrar, ela passa pela mulher sem percebê-la e tenta avançar para o CTI, mas a outra a detém.  

A MULHER: Pois não?
MARTA: Com licença senhora, eu preciso passar.
A MULHER: Passar pra onde?
MARTA: Passar pra lá.
A MULHER: Pra lá não pode.
MARTA: Que não pode o que.
A MULHER: Tenta então.
MARTA: (é quase uma ameaça) Vamos lá, minha senhora...
A MULHER: Eu chamo a segurança.
MARTA: Chama o escambau.
A MULHER: Claro que chamo.
MARTA: E você, como se chama?
A MULHER: Ele nunca te disse?
MARTA: Acho que a gente nunca teve muito tempo.
A MULHER: Ah, não?
MARTA: Uma pena.
A MULHER: O escambau!  
As duas se encaram por um lampejo de segundo.

MARTA: Então você é a.../
A MULHER: A mulher dele.
MARTA: Prazer “mulher dele” (apresenta-se) Marta!
A MULHER: Eu sei.
MARTA: Ele já falou de mim?
A MULHER: Rá! Como se precisasse.
MARTA: Então você deve saber também que eu preciso falar com ele!
A MULHER: Falar com ele?
MARTA: Com o próprio.
A MULHER: Ah, mas hoje não vai dar não.
MARTA: Eu preciso.
A MULHER: Será que precisa mesmo?
MARTA: Claro que preciso.
A MULHER: Precisa nada.
MARTA: Preciso!
A MULHER: Não precisa!
Nó.

MARTA: Olha só, “mulher dele”... É esse seu nome, não é?
A MULHER: Pra você, por hoje, é.
MARTA: Eu juro: é só uma palavrinha.
A MULHER: Que inferno! Será que nem morrendo meu marido vai ser só meu?
MARTA: A senhora está gritando.
A MULHER: E você com isso?
MARTA: Aqui é um CTI, minha senhora, se controle.
A MULHER: (a seguir, um ataque histérico) Então a senhora “quero entrar aí” agora vem dar uma de – sabe aqueles quadros que tem em todo hospital, com uma enfermeira pedindo silêncio com o dedo indicador encostado nos lábios assim ó (demonstra) Então! – Agora a senhora vai fazer a linha “pedindo silêncio na porta do CTI”. Porque finalmente  caiu sua ficha, não é? Que aqui é um CTI! Que ele, o meu marido está lá dentro, no CTI. E que CTI, por ser CTI, não é um lugar qualquer. É um CTI! C – T – I.  E, assim, não sei se você sabe, mas CTI não é lugar da gente ir assim, entrando. Não! CTI é lugar sério. Lugar limpo. Branco. Tudo branco. Tudo muito branco. Tudo muito limpo - sabe como? Tão limpo e tão branco que chega a doer. Doer os olhos, sabe como? De matar de inveja qualquer dona de casa fissurada. Porque nunca (NUNCA!) haverá um lugar tão puro como um CTI. Praticamente uma amostra do céu, porque o céu deve ser assim, limpo, branco. Esterilizado. É bom que ele, meu marido, aproveite sua chance de ter uma provinha do céu, porque sinceramente não tem santo que vai ter misericórdia daquela alma. Vai direto pro inferno. E inferno, você sabe, não tem nada de branco, limpo, esterilizado. Não é assim, como um CTI, porque CTI é um céu... Um céu não, porque meu marido não vai pro céu, ele vai pro inferno, direto pro inferno, pra aonde o diabo o carregue, a porca torça o rabo e onde faça muito, mais muito calor – porque ele, meu marido – odeia calor. Odeia calor. Um fresco! Sabe? Por causa disso a gente nunca foi à uma praia... Nunca! Eu sempre fui louca com praia. Louca! Vinte anos casada com este homem e ele nunca me levou à praia! Nunca uma Guarapari, um Cabo Frio... Nunca! E por que eu nunca fui sozinha? Não sei, vou perguntar minha analista, minha analista deve saber. Porque minha analista sabe de tudo. Tudo. Ô mulher pra saber, aquela baixinha! Sabe que eu nunca fui feliz e que ele – meu marido – vai pro inferno, onde o calor é terrível, ainda mais pra ele que odeia calor e nunca me levou à praia. (Pausa brusca) Vocês já foram à praia?
MARTA: (estarrecida) Sim, tudo começou em uma praia.
A MULHER: Como?
Instante.
MARTA: Toma uma água.
Ela toma uma água.
A MULHER: Graças a Deus o médico disse que ele não passa de hoje.
MARTA: Hoje?
A MULHER: Poucas horas.
MARTA: Meu Deus!
A MULHER: Pois é...
MARTA: Sempre tão forte... Quase um touro. Quem diria...
A MULHER: É essa vida que ele escolheu levar...
MARTA: Você sabe se ele trouxe o computador?
A MULHER: (...)
MARTA: (...)
A MULHER: (...)
MARTA: Um tablet?
A MULHER: (...)
MARTA: Um bloquinho e uma caneta?
A MULHER: Brincadeira mais sem graça, viu...
MARTA: Olha pra minha cara e vê se eu estou brincado!
A MULHER: A vida tem cada uma.
MARTA: Nem me diga.
A MULHER: Marta, não é?
MARTA: Sim, Marta. E você?
A MULHER: Continuo sendo a “mulher dele”.
MARTA: E a “mulher dele” não tem nome?
A MULHER: Não importa muito agora.
MARTA: Pois a mim importa. Se seu marido morrer ali dentro, como é que eu vou ficar?
A MULHER: Ah não! Olha aonde essa indecência foi chegar.
MARTA: Olha só, eu entendo sua revolta, mas eu tenho pouco tempo...
A MULHER: Que pouco tempo, minha filha? Seu tempo acabou há ó...
MARTA: Mas não o do nosso filho!
A MULHER: Que filho?
MARTA: O que o teu marido me fez!
A MULHER: Como?
MARTA: Minha querida, nós duas já somos adultas! Não precisamos de detalhes...
A MULHER: Não acredito...
MARTA: Preciso falar com ele sobre isso antes que ele morra.
A MULHER: Eu que preciso falar com ele sobre isso antes que ele morra.
MARTA: Foi no nosso último encontro, no quarto de vocês!
A MULHER: Na minha cama?
MARTA: Com você do lado!
A MULHER: Santo Deus.
MARTA: Naquela noite ele abriu o computador e me fez um filho. Até aí tudo bem! A gente está aí pra isso mesmo! Mas acontece que em alguns parágrafos adiante ele acrescentou que a gravidez era de risco!
A MULHER: De risco?
MARTA: Desgraçou a minha vida em menos de duas páginas.
A MULHER: Como ele pode?
MARTA: Preciso dar um jeito nisso... Salvar pelo menos meu menino!
A MULHER: É um menino?
MARTA: Não tenho certeza. Ele não continuou a escrever. Fiquei lá, parada no tempo, em uma das várias versões da história que ele vinha escrevendo, com uma gravidez de risco...
A MULHER: Ele não continuou?
MARTA: Não continuou...

CENA II
Sala de parto: Médicos realizam o (complicado) trabalho de parto de Marta. A “Mulher” está no local, com laptop ligado, digitando freneticamente. Marta grita de dor.

A MULHER: Vai dar certo, Marta! Estamos quase lá.
MARTA: Pelo o amor de Deus, termina isso rápido!
A MULHER: É que eu nunca fiz isso antes.
MARTA: Não precisa de muito. Só termina...
A MULHER: Calma! “Ela grita”
Marta grita.
MARTA: Termina!
A MULHER: (lendo o que digita, ainda freneticamente) “A dor de Marta chegou ao ápice. Naquele instante, ela sentiu que sua alma seria rasgada, dilacerada, feita em mil pedaços”.

Marta grita, Marta chora. Ai que dó da Marta!
MÉDICO: O que é que a senhora está fazendo?
A MULHER: Acabando com o sofrimento da Marta!
MÉDICO: Você vai matá-la!
A MULHER: Claro que não.
UMA DAS ENFERMEIRAS: Isso é recalque de mulher traída. Conheço bem.
MARTA: (sem mais um pingo de força) Então é isso... Vingança?
A MULHER: Não! Eu juro que não! Eu só preciso manter a coerência da obra do meu marido. A poesia do texto dele, a potência das imagens criadas em suas narrativas, é só isso. Juro que não é nada pessoal. Eu juro. Eu só preciso me concentrar...

Num lampejo do tempo, vejam só que sensacional: a cena do parto desaparece, e fica por ali apenas a MULHER digitando freneticamente, iluminada pela luz do laptop. Eis que vemos o MARIDO surgir atrás dela.

MARIDO: (lê) “E naquele instante – Silêncio. Era como se o nada se fizesse presente e transformasse  tudo ali, naquela sala... A dor de Marta dilacerou sua alma e parou os ponteiros do relógio, o pulsar dos corações, as gotas de suor... e fez de tudo um único e pesado silêncio.” Que isso?
A MULHER: Um instante... Preciso salvar o bebê.
MARIDO: Que bebe?
A MULHER: O menino!
MARIDO: Você está ficando maluca! Para de mexer nisso.
A MULHER: A Marta precisa de mim.
MARIDO: Para que isso não é brincadeira. É coisa séria.
A MULHER: Eu sei.
MARIDO: Vamos voltar a dormir.
A MULHER: A Marta me pediu...
MARIDO: Isso é esse seu remédio forte! Já disse que você tem que parar...
A MULHER: O bebê...
MARIDO: Adalgisa?!
A MULHER: Um instante só.
MARIDO: Para de mexer no meu trabalho. Isso é sério.
A MULHER: Você precisava ver o desespero da Marta.
MARIDO: Você está louca, Adalgisa. Já disse, para de estragar minha históra.
A MULHER: Eu prometi pra Marta.
MARIDO: Que Marta?
A MULHER: A sua Marta!
MARIDO: Que minha Marta?
A MULHER: Esta Marta.
A mulher aponta para o laptop.
MARIDO: (Lê) “Marta, desfalecida, parecia sorrir. Uma lágrima escorreu dos seus olhos enquanto ela dava um último suspirou ao ouvir o choro do seu menino romper com o que parecia infinito.” Meu Deus! Você... Você... O que você fez?
A MULHER: Salvei a criança.
MARIDO: A Marta?!
A MULHER: A Marta...
MARIDO: Você matou a Marta!
A MULHER: Nós podemos criar o menino.
MARIDO: Assassina.
A MULHER: Melhor que a Marta.
MARIDO: A Marta não merecia.
A MULHER: Eu sempre quis ter um menino.
A MULHER: Sua louca!
A MULHER: Já pensou em um nome pra ele?
MARIDO: A Marta era uma mulher boa. Honesta.
A MULHER: Dalgoberto é um nome bom, o que você acha?
O marido se agarra ao laptop e chora.
Chora feito o menino que ali, na sala de parto, já sente falta da mãe.
A MULHER: Lindomar também não é de todo mal. Você gosta?

sábado, 5 de janeiro de 2013

de mãe para filho


F, para filho.
M, para mãe.

F: Eu vou!
M: Come alguma coisa.
F: Você viu onde eu as coloquei?
M: Fiz umas coisas, uns bolos, trouxe uns pães.
F: Eu preciso delas.
M: Não sai sem comer.
F: Minhas chaves.
M: Tá tudo quentinho.
F: Você não viu?
M: Ontem seu irmão veio-me dizer que vai embora.
F: Deixei aqui.
M: Sabe o que eu pensei quando ele me disse isso?
F: Mãe, eu estou atrasado.
M: Que qualquer dia desses eu é quem vou embora.
F: Come alguma coisa.
M: Porque a gente se farta.
F: um bolo, um pão.
M: Porque tem uma hora que a gente que é mãe também se farta.
F: Não sai sem comer.
M: Você viu onde eu as deixei?
F: Tá tudo quentinho.
M: As minhas chaves. Eu as coloquei aqui.
F: Uns bolos, uns pães.
M: Eu vou!