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domingo, 21 de novembro de 2010

Eu sei que estou sendo repetitivo, mas

Eu preciso dizer “eu te amo” para desabar. Para sentir o seu espanto, sua repulsa, você se afastando e sentir o vazio que será deixado no lugar disso que me preenche e eu julgo ser o que me mantém vivo. E no fundo, sei que não é. Eu sei. Sei? Eu te amo! E eu estou aqui, vivo, como nunca estive, perdido no mundo dos clichês; sim! Este mesmo mundo de idealizações: Eu estou tremendo, olha! Eu nunca estive tão vivo: eu te amo!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

no espelho

Olha o meu rosto, mãe. Olha pra mim e tenta achar na minha cara algum rastro de juventude. Repara na dureza do meu cenho. Repara! Vê em mim as deformações precoces? A fatalidade dos dias descarregada de uma vez sobre minha pele, meus músculos, meus ombros. Meus ombros: olha os meus ombros! A senhora não deve notar, mas cá está o peso de todos estes anos. O peso desta casa, deste ar, destas vidas. Das suas vidas. Não me vira a cara, mãe: Escuta! Quando o pai resolveu ir, ele levou consigo o pouco que eu tinha de meu: o brilho dos meus olhos! Percebe que ele não está mais aqui? Pois é, já faz um tempo que até ele me abandonou... E é por isso que eu tenho de partir...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

LUZ. O PRIMEIRO ALI, COM MARCAS DO CRIME. O SEGUNDO ENTRA, COM UMA BEBIDA.

O primeiro: Feito?
O segundo: ...

O PRIMEIRO ABRAÇA O SEGUNDO. ELE SUJA SUA ROUPA COM A SUJEIRA DA ROUPA DO SEGUNDO. DELICIA-SE UM INSTANTE COM AQUELAS MARCAS DE SANGUE.

O primeiro: Você é o melhor amigo que eu poderia ter!
O segundo: Está lá!
O primeiro: Que outra pessoa faria isso por mim?
O segundo: Ali...
O primeiro: O dia está bonito, parece até que adivinhou...
O segundo: Preciso me limpar...
O primeiro: Bobagem! Vamos brindar!
O segundo: Eu preciso!
O primeiro: Não precisa! Senta! (ele senta) Bebe!
O segundo: Tenho sede.
O primeiro: Bebe mais!
O segundo: Não vai vê-la?
O primeiro: Agora não...
O segundo: E quando vai?
O primeiro: Já!
O segundo: Ela não podia ser de dois homens!
O primeiro: Que bom que você entende isso!
O segundo: Nem sua, nem dele!
O primeiro: Quer mais bebida?
O segundo: O outro...
O primeiro: Só um bom amigo para sentir o que eu sinto quando penso nela com o outro...
O segundo: Os telefonemas...
O primeiro: Pena não ter trazido gelo...
O segundo: As noites que ela pertencia a ele!
O primeiro: Te doía pensar assim também?
O segundo: Como?
O primeiro: Quando ela não era sua, mas minha?
O segundo: ...
O primeiro: Beba mais um pouco, meu caro amigo!
O segundo: Deixei de ser seu amigo faz muito tempo.
O primeiro: Desde a primeira vez que a minha mulher se tornou sua ou desde a hora que você assassinou a minha mulher?
O segundo: Preciso me limpar.
O primeiro: Não precisa! Para estampar as primeiras páginas dos jornais é melhor assim.
O segundo: ...
O primeiro: Quase um Romeu e Julieta!
O segundo:...
O primeiro: Ela, morta pela lâmina e ele por um veneno mortal.
O segundo: Sempre soube de tudo?
O primeiro: Claro, meu bom amigo!
O SEGUNDO CAI MORTO, COM O VENENO DO SEU CHAMPGNE.
O primeiro: Um brinde!