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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ad infinitum

isso não vai se repetir


repito!


- isso não vai se repetir.


(repito)

ISSO não vai se SE REPETIR


(...)

vai repetir

repitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepitorepito


!

não vai.

(não vou)

eu fico e:

- Isso não vai se repetir...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

simpatia do tempo

conte sempre

três semanas

no máximo

para calcificar 

qualquer tipo
de
sopro-de-moça 

que te pese o juízo.



sábado, 8 de novembro de 2014

7h12

por hoje
me importava somente
ser sabedor
da língua
que gritasse seu gozo.

Sem muito entendimento 
tradução do que se passa
explicação lógica para essas 
quatro paredes 
decadentes
que nos abriga

agora,
7h12.


ouvir seu grito
saber falá-lo
sentir gemido
eternizá-lo

pela língua

movida pelo intuito de nome desejo 
que fala gozo
canta valsa

baião
...
que te retorce toda

|feito bailarina
NÃO|


              feito quem se entrega
             igual a desarmonia harmônica de uma árvore retorcida.

Escutei uma vez
nesse idioma que habitou primeiro a minha línga

- Ali mora Deus
na beleza de uma árvore retorcida.


você vai e desconfia
- O Tal não existe.

Como não em teu corpo-mulher?
Dançando
contorcendo
sendo
CORPO-MULHER
este seu
aparato de carne e sangue
MARAVILHOSO
que agora eu
pela linguagem
tento alcançar.


como não, eu me pergunto agora, afundado neste silêncio orquestrado pelo seu sono.

Canto seu gozo mulher
numa língua trêmula
meio sem modos
sem jeito
que tenta alcançar a nota
dessa música que te faz dançar
plena
CORPO-DEUS.


CORPO PRESENTE
vivo
nessa cerimônia
que hoje
nessa língua gozo
quisemos celebrar.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

secura

sabiá tá que canta aqui no fundo da minha casa
diz meu pai que ele assim chama a chuva 
e a chuva vem.
Canta sabiá, canta!

sábado, 23 de agosto de 2014

diário de bordo #2

com-medo-disso{querer} ser-poesia.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

esculpir palavra ressoa no estômago
assimila
é esta a dor do parto-verbo
cada contração!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

tenho engolido o tempo
não tem caído bem
qual que nem indigestão.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

no meio de uma coleção de certezas, encontrei esta agora:

"um dia 
não bastaria um ônibus,
vinte e dois minutos de caminhada,
pedalar morro acima,
um toquinho no celular
não bastaria nem
a casualidade das coisas.
dos dias.

um dia
brotaria uma distância
dessas preenchidas de vácuos, incalculáveis no sistema de medias precisas, mãe de poemas tão murchos e sorrisos minguados

e para ela nada basta, nunca se chega: uma senhora distância.

brotada.
solidificada.
instaurada.


entre aqui e ali.

glacial. 

um dia
você iria pra ali.

esse ali tão longe

bem longe.

e a mim restaria ficar aqui,
glacial".

até logo, eu digo agora. até lá!
(quem sabe um dia?)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

engole este grito, menino.
agora olha pra cá
assim não, assim feio.
sorri!
isso
assim.
sem careta. careta não.
careta feio
outra vez
que isso?
abre a boca
deixa eu ver

engole este grito
ENGOLE
deixa eu ver se engoliu.
isso
bonito.

menino bonito.
agora olha pra mim, dá um sorriso, dá?

quarta-feira, 18 de junho de 2014


domingo, 11 de maio de 2014

gabinete dramatúrgico on-line

Em face aos últimos acontecimentos,
de Raysner de Paula

Ela vomita:
Só Deus sabe o quanto eu estou aliviada e satisfeita
com esse nosso investimento, essa nossa mobilização, esse nosso empenho
ISSO DA GENTE
já ter adiantado a coisa toda, essas coisas, esta questão
A DA FUNERÁRIA
Santa antecipação!
Por que
NÃO!
imagina
nós 4 sermos pegos, assim, de surpresa, num dia como hoje
NOITE DE NATAL
quem gosta de ser surpreendido assim?
NOITE DE NATAL
EM PLENA CEIA
REUNIÃO DE FAMÍLIA
FESTEJO
Quem?
Aposto que nem esse rapazinho,
Este, o da funerária, aquele, que nos atendeu mais cedo, o que nos avisou
nem ele.
O que ligou pra um por um
Até isso eles
SANTA FUNERÁRIA!
Nos pouparam
Dos avisos, dos telefonemas, do
‘oi, nosso pai, o teu pai, o meu pai, não está bem, nosso pai, o meu pai, o teu pai, ele, você sabe, eu digo, ele já não estava muito bem, há tempos, o médico nos precaveu, nós já sabíamos, nós já nos resguardávamos, nosso pai, hoje, nessa noite de natal, às vinte e três horas e vinte cinco minutos, o teu pai, o meu pai, desculpa te ligar assim, mas é que aconteceu algo, ele, sim, é urgente, mais que um acidente, você sabe: o nosso pai morreu.”
Eles nos pouparam! Esses rapazinhos, os da funerária, desses telefonemas, desses dizeres, em plena noite de natal
QUEM GOSTA DE SER SURPREENDIDO ASSIM?
Nem eles, esses rapazinhos
aposto que eles nos xingaram horrores. Por trás dessas carinhas prestando suas melhores e empacotadas e comercializadas e industrializadas e ensaiadas condolências. há de existir por de trás delas caretas horríveis para nós, há a ira das expressões do momento que tiveram que interromper suas ceias, os seus festejos, sua noite de natal, para comunicar a
NÓS,
OS FILHOS
Que mensalmente permitimos descontar dos nossos salários, dos nossos suados salários, essa quantia, esse tanto de dinheiro besta que fazia lá alguma falta, mas que
NÓS,
OS QUATRO IRMÃOS
Sabíamos que esse dinheiro pagava este alívio, esta espécie de missão cumprida, este gosto do AINDA BEM, FIZ O QUE PUDE, NÃO TEMOS MAIS COM O QUE NOS PREOCUPAR está tudo acabado
Nós nem mais precisaremos nos ver!
Nem mais precisaremos fingir afeto entre nós
Esse afeto imposto por esse laço que sem querer nos une, nós no fundo sentimos isso, falamos isso com os olhos, nós exalamos esse pensamento, ai se nós pudéssemos dizer, se pudéssemos festejar, cada um com a dívida funeral já paga, a não necessidade de um velório.
(o nosso pai não tinha amigos, não temos outros parentes, nada.)
(há apenas esse vazio e a morbidez dessa sala que na verdade não é nada demais, é só o peso de tantas outras mortes comunicadas aqui, nessa sala, só isso, o peso de tantas outras mortes, não é nada nosso)
Não temos e não vamos nos preocupar.
Nossos boletos estão pagos. Nosso compromisso está em dia. Nós estamos bem.


EU ESTOU BEM.

O OUTRO FILHO: Tem certeza?
A IRMÃ DO MEIO: Bebe essa água.
ELA: Eu estou bem.
O IRMÃO MAIS VELHO: isso DEVE ser alguma porcaria com a qual você andou se entupindo...
ELA: deve.
A IRMÃ DO MEIO: Deve ter sido o susto.
ELA: deve também
O OUTRO FILHO: Você se assustou?
A IRMÃ DO MEIO: Parece que aqui não demora.
ELA: Eu me assustei um pouco, eu já estava deitada, estava quase dormindo, eu.
Eu não sei.
A gente ensaiou isso tudo.
Eu ensaiei isso tudo.
Quando me dessem a notícia eu faria uma cena.

Ela faz uma cena:
Eu tenho uma lembrança do meu pai. Uma lembrança tão bonita.










sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

estiagem


currículos
mensagens aos distantes 
cartas de amor 
umas de anuência 
e também de intenção 

enviados aos monte.

é aí que transito 
num tão sem fim vácuo
que cabe o universo
que existe entre 
um sim
(piscadela)
ou não.