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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

DIA DAS CRIANÇAS


12 de outubro. O pai e a mãe entram no quarto da menina de nove anos, que finge dormir, esperando o presente do dia das crianças. A mãe desperta a menina:
— Amoreco! Ta na hora de acordar!
A menina finge despertar de um sono profundo.
— Papai, mamãe. Bom dia.
— Bom dia minha querida e feliz dia das crianças.
— Ai, é mesmo! Hoje é o dia das crianças. – como uma menininha de nove anos pode ser tão cínica? – Nossa, papai! Quase me esqueci.
— Mas a gente não.
— Trouxemos isso aqui com muito carinho pra você!

O pai entrega um enorme embrulho rosa pra filha.
— Abra! Você vai gostar.
— Eu, no seu lugar, amaria!

“Minha boneca que faz coco, chora e canta!” pensou a menina rasgando o embrulho empolgadissima. Estava falando daquela boneca desde o inicio de agosto.
O embrulho acaba de ser aberto. Uma coleção de doze livros do Sitio do Pica Pau Amarelo cai no colo da menina. O pai e a mãe se olham. Sorriem um para o outro. A menina olha aquilo aterrorizada.
— O que significa isso?
— Uma raridade, querida!
— A primeira edição dos livros do Sitio do Pica Pau Amarelo, do Monteiro Lobato.
— Estávamos guardando pra quando você pegasse certa idade. Esta coleção pertenceu ao meu pai, depois a mim. Espero que você goste.
— Não! Vocês estão zuando né? Ta bom! Muito engraçada a brincadeira. Agora, cadê aquela minha boneca que faz coco, canta e chora? Aquela que eu te mostrei na loja do shopping, mamãe.
— Filhinha...Achamos melhor não compra-la! Já era hora de você se tornar dona desse tesouro. Uma raridade.
— Ah!
Silencio. A menina examina os grossos livros. Apesar de serem velhos estão todos bem conservados. Parecem que foram comprados ontem. A menina folheia um ou outro. Os olhos vão se inundando de lagrimas. O rostinho branco vai ganhando uma tonalidade rubra.
— QUE HORROR! EU NÃO QUERO ISSO... NÃO QUERO. ANDA! ME DÊEM MINHA BONECA QUE FAZ COCO, CANTA E CHORA!
O pai, abobado.
— Princesa!
— PRINCESA UMA PINÓIA! COMO VOU CHEGAR NA ESCOLA AMANHÃ DIZENDO QUE EU GANHEI UMA COLEÇÃO DE LIVROS VELHOS? SE NÃO TINHAM DINHEIRO, AVISASSEM. EU NÃO IRIA FICAR SONHANDO COM A BONECA SUPER NA MODA QUE FAZ COCO, CANTA E CHORA!
— Mocinha, se controle!
— Não tinha um MP5? Um nootebook da Xuxa ou das Meninas Super Poderosas? Um celular com câmera integrada e radio? Um computador novo? Um patinete da Hello Kity?
A mãe, paciente:
— Linda. Você já ganhou isso tudo no ultimo aniversario...
— Eu não quero essa velharia. – diz a menina em pranto. – Já vi todos os episódios na televisão...Eu não quero mamãe! Não quero! Eu odeio livro...
— Mas na TV é diferente, meu amor! O livro tem mais informações, ilustração... Juro! Você vai viajar na leitura!
— Eu vou viajar é pra casa da titia. Vou embora dessa casa e queimar esses livros na rodoviária. Mamãe, pega meu cofrinho e minha mala. Irei começar a arrumar minhas coisas. Assim eu não agüento mais! Vocês me estressam, sabia? Olha o que eu tenho que aturar antes das dez horas? É muita coisa traumatizante pra uma criança só!
— JÁ CHEGA GAROTINHA! VOCÊ, GOSTANDO OU NÃO, VAI LER TODOS ESSES LIVROS EM, NO MAXIMO, DOIS MESES! DEPOIS DISSO EU QUERO UMA RESENHA CRÍTICA DE CADA UM NO MEU QUARTO, MUITO BEM ESCRITA, CONTENDO ILUSTRAÇÕES E REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA. E, SE CASO ISSO NÃO ACONTECER, EU VOU TE DAR UMA BELA SESSÃO DE PALMADAS QUE IRÃO SE REPETIR ATÉ VOCÊ FAZER O QUE EU MANDEI! FUI CLARO?
— Mamãe!!!!!
— E SE EU PERCEBER QUE ALGUMA COISA FOI TIRADA DA INTERNET A COSA VAI DOBRAR! POXA!EU GUARDO ESSES LIVROS COM O MAIOR CARINHO PRA ENTREGAR PRA MINHA FILHA E OLHA O QUE EU RECEBO? INGRATIDÃO!

— Seu pai está certo. Você nos decepcionou muito. Estou de acordo com ele.
— E VAI SE ARRUMAR PRO CAFÉ... A GENTE IA NO ZOOLÓGICO! AGORA VAMOS FICAR EM CASA, ASSISTINDO TV! E TRATE DE CUIDAR DESSES LIVROS EM MENINA...SE EU VER QUALQUER SINAL DE DESCASO COM ELES VOCÊ VAI TER, HEIM! MAL AGRADECIDA! QUANTA CRIANÇA NÃO DARIA TUDO PR GANHAR TODOS OS LIVROS DO MONTEIRO LOBATO? NA MINHA ÉPOCA A GENTE SE JOGARIA NA FRENTE DE UM CAMINHÃO PRA GANHAR UM DESSES LIVROS.
— Eu odeio vocês!
Mas os pais já tinham dados as costas. O pai, bufando e decepcionado. A mãe tentava acalma-lo. A menina, ainda em cima da cama, começa a folhear os livros. Abre “O POÇO DO VISCONDE.” Se interessa a principio. Depois, lembrando-se que não havia ganhado a Boneca que faz coco, canta e chora, volta ao normal. Lança o livro na porta, causando um estrondo. Exclama raivosa:
— Odeio ter pais professores de Literatura Brasileira!

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

PRINCESA TERRA

Quando tudo se deu a princesa Terra acreditava que tudo aquilo parecia um conto de fadas. Por isso convém iniciarmos nosso conto com um notável e preciso era uma vez para darmos o tom certo aos fatos...
Era uma vez a Princesa Terra. Ela era a única filha dentre os nove herdeiros do rei Sol, autoridade máxima do sistema solar. Seus demais irmãos; Mercúrio, Vênus,Marte, Júpiter, Netuno, Urano, Saturno, e Plutão,que,diga-se de passagem, não era filho legítimo do rei Sol, (o que logo se percebia ao olhar suas características e tamanho) completavam a família. Todos possuíam características e prioridades próprias, o que o enchia de orgulho o rei. Destacavam-se mais Saturno, Júpiter e Mercúrio. O primeiro era o mais ambicioso e esbelto. Com o tempo, ele conseguiu acumular riquezas e não escondia isso de ninguém. Exibia-se com seus lindos anéis de brilhante sem culpa. Júpiter era o mais forte e destemido. Com seu tamanho e sua força era a principal opção do pai para a sucessão ao trono do sistema. Mercúrio era o mais sensível e vivia mais próximo do pai, sem perdê-lo nunca de vista. Amava-o. Já a princesa Terra não se importava com beleza, apesar de possuí-la com abundancia, nem com a riqueza, pois tinha de sobra, nem com nada... Ela só queria saber de uma coisa: arranjar um casamento para não viver sozinha como os irmãos. Queria sentir a vida pulsando dentro dela. Queria ser feliz por toda a eternidade. Queria amar e ser amada. O rei Sol, que muito agrado tinha pela filha, concedeu então a ela condições favoráveis para que ela tivesse o que era de sua vontade...
Sabendo da situação em que a Terra se encontrava vários candidatos se ofereceram!Todos queriam usufruir das regalias que um casamento com a princesa poderia proporcionar. Demorou muito para que ela escolhesse um dos seus pretendentes. Muitos eram fajutos, outros interesseiros e, outros, apenas curiosos. O primeiro a tentar encantá-la foi o Homo Erectus Pithecanthropus, que não obteve muito sucesso na empreitada. Depois outros vários que não encantaram nossa princesa. Quando ela já pensava em desistir, julgando-se incapaz de arranjar um marido que a amasse de verdade, apareceu o misterioso príncipe Homo Sapiens, primo distante do Homo Erectus. Foi amor à primeira vista.
No princípio era pura paz e amor que existia naquela união. A Terra fazia de tudo um pouco para agradar o seu marido. Fornecia ao Homem (assim ela o chamava) tudo que ele precisava para viver. Compartilhavam o calor do rei Sol e contemplavam juntos o universo durante as noites. Com o tempo a Terra permitiu que o Homem conhecesse um pouco mais sobre cada um dos seus irmãos. O Sol, enciumado por estar perdendo a sua filha, e desconfiado em relação às intenções do Homem, pediu para que sua esposa, a Lua, madrasta dos seus filhos, para que ela observasse aquele relacionamento durante o tempo que ele se ausentasse. Alguma coisa naquele tal Homo Sapiens lhe cheirava mal... Alguma coisa naquilo tudo não agradava ao Grande Rei. A Terra insistia que era pura implicância com o seu amor. Com o tempo ela veria que não era.
Um certo dia, o Homem descobriu algo que acendeu ao máximo sua cobiça. Vasculhando os pertences de sua senhora, ele descobriu algo ainda intocado, puro e lindo, mais valioso que qualquer outro tesouro que ele já tivera conhecimento – o meio ambiente. Foi aí que as coisas, nesse harmonioso relacionamento, começaram a desandar. O príncipe Homo Sapiens chegou a conclusão que, se trabalhasse aquele tesouro, ele seria grande fonte de renda e lucro. A Terra insistia em dizer que era perda de tempo explorar aquele tesouro para obter lucros maiores. Ela podia proporcionar ao Homem tudo do bom e do melhor sem que ele modificasse nada nas matas, nos rios e nos campos – alguns dos milhares de fatores que formavam a tal preciosa riqueza. Mas o Homem, cego pela ambição, não lhe deu ouvidos e começou a se revelar uma outra pessoa, diferente daquele ser carinhoso e atencioso que Terra havia abrigado. Inventou o fogo, a faca, as cidades, as queimadas... Viu que aquilo dava lucro! Gerava mais e mais riqueza! Não satisfeito, ele continuou explorando e maltratando a princesa e, definitivamente, não escutava mais nada que ela lhe dizia. Inventou a tal industria, a poluição e o desmatamento.
A família da Terra já percebia que as coisas não iam bem. Sua face, sempre azulada com um azul único, raro no universo, parecia estar se acinzentando. Entre os irmãos ela tinha um apelido: “Terra, Planeta Água.” Ela era a única filha do Sol que era portadora deste bem que parecia estar, rapidamente, desaparecendo totalmente da sua superfície. A Lua, preocupada com a tristeza da enteada, resolveu conversar com ela para saber se podia ajudar em algo. Aquela situação não podia continuar. Notava-se que a Terra estava sofrendo muito com tamanhos maus-tratos do seu marido. Ela estava ficando doente, perdendo a beleza e sua riqueza dissipando-se. Seu marido e os parentes dele agora extraiam do seu seio um sangue negro, valioso – o petróleo. Com ele, o Homem se embriagou. Esbaldou-se com sua extração. Gerou impérios e, em contrapartida, mais poluição do que nunca. Mas os conselhos da Lua não foram satisfatórios e entraram por um ouvido e saíram pelo outro. “Se conselho fosse bom eu não dava, vendia.” Completou a esposa do rei Sol. A Terra, simpaticamente pediu para que a madrasta não se metesse e muito menos falasse qualquer coisa com seu pai. A Lua, que também gostava muito da Terra, prometeu guardar segredo, mas pediu que ela desse um jeito logo nesse tal Homem, antes que fosse tarde demais.
O Homem começou a notar um estranho comportamento por parte de sua esposa. As lágrimas dela começaram a conter ácido...o ar que a mulher exalava agora fazia mal aos pulmões dele...os mares dela pareciam mais agitados, o que causava grandes destruições a tudo aquilo que ele havia construído.No momento em que sua esposa deveria estar fria, ela parecia mais quente do que nunca e quando era para estar quente, se apresentava gélida, cinzenta...Depois de algum tempo o sr. Sapiens começou a perceber que alguns dos recursos que a mulher tinha de sobra estavam sumindo ou sendo encontrados com escassez.
O Sol, guiado pelo seu sexto sentido de pai, teve certeza que seus pressentimentos pré-concebidos a respeito do Homem estavam certos e começou a tratá-lo com mais severidade... O mesmo ele fazia com a filha, na tentativa que ela acordasse daquela paixão e que separasse do seu marido. Emitia raios mais quentes, o que causava desconforto, tanto a filha quanto ao genro.
Infelizmente, este conto que a princípio poderia seria mais um belo conto de fadas, não poderá ter o mesmo “...e viveram felizes para sempre!” Sim, porque ele ainda não acabou. Ainda hoje, a Terra e o Homem são casados. Vez ou outra, ela revida aos maus-tratos que a exploração e a ambição exacerbada do seu marido lhe causam. Sua riqueza maior – o meio ambiente – está preste a se tornar uma lenda para os filhos que não param de nascer e seguir o comportamento do Pai. Alguns desses filhos tentam reverter à situação do casal, mostrando ao Homem que suas atitudes vão levá-lo ao seu fim. Mas o Homem enlouqueceu. Esqueceu-se do amor que a Terra sente por ele. Da confiança que sua esposa, a linda princesa, lhe devotava. Do quão os dois poderiam ter vivido uma linda e eterna história de amor se ele não tivesse feito do maior tesouro que a Terra possuía a própria vala deste sentimento.
Às vezes, sozinha no seu canto, ela chora. Chora baixinho para que seu marido não escute, e assim não desagradá-lo (aliás, ainda hoje ela tenta ser o melhor possível para o seu senhor.). Chora desejando nunca ter sido a portadora dos bens que estão levando-a ao seu fim. Deseja às vezes ter nascido como seu irmão Marte que é seco, sem vida, sem matas, sem rios e riachos, sem mares; um solitário... Sem ter os belos pássaros a cantarolar pela manhã despertando os seus seis bilhões de filhos. No fundo sabe que o desgaste que a relação sofreu nunca mais vai permitir o mesmo relacionamento e o mesmo amor. Agora, depois de velhos, ela nem mais pensa em se separar do marido. Vive com ele por conveniência, tentando suportar todo o mal que ele a causa. Mas uma hora não vai dar mais pra suportar e já se comenta que, de tanto sofrimento, a Terra virá a sucumbir sem o tão desejado desfecho para sua história...
... “E viveram felizes para todo um sempre!”


RAYSNER D’ PAULA

domingo, 2 de setembro de 2007

OI!!! SIMPLES ASSIM.