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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

--Ei, você!
Ela não se dá conta de que estão chamando-a. Aguarda, ansiosa, a mala despontar na esteira.
-- Moça!
Ele se aproxima, ofegante.
-- Você!
Ela se vira para o lado.
-- Um minuto!
Está ainda tentando retomar o ritmo de sua respiração.
-- Pensei que tinha te perdido!
-- Desculpe?!
-- Me dá pelo menos o número do seu telefone.
-- Acho que você está me confundindo.
-- Como?
-- Acho que você está enganado.
-- Eu?
-- Sim.
Ela ri da confusão dele.
-- Claro que não!
Ele a encara.
-- Achei que tínhamos um elo agora.
-- Elo?
A ansiedade dela torna-se irritação. A esteira não mais traz bagagens.
-- Elo sim!
-- O senhor é maluco?
-- Ou a senhora que tem a memória curta?
-- Deixa eu te falar uma coisa: eu viajei doze horas, estou exausta, com fome e acabo de perceber que sem a mala também. Então dá pro senhor se afastar? Tentar ser um pouco mais conveniente?
-- Me admira a senhora estar exausta. Dormiu a viagem inteira.
-- Que?
-- Dormiu a viagem inteira, senhora. E no meu ombro! Estava ao seu lado, dentro do avião.
--Ah-oh! Desculpe-me. É que...eu...tomo remédios e acabo...apagando! Durmo rápido. É...
-- Não tem o que se desculpar
Ela falava rápido, embaraçada..
-- Então: tá tudo certo, não é?
-- É sim!
-- ...
-- ...
-- ...
-- ...
-- Obrigada pelo ombro!
-- Não há de que.
Estranho aquele sujeito.
Alto, grisalho. Um sorriso bobo espalhado na boca. Olhos vidrados na mulher ao seu lado. Voz suave.
-- Já que não temos elo, até...
-- Até!
Ele se vira e parte.
Ela o observa. A distância vai aumentando. Olha novamente para esteira: em vão! Bagagem extraviada. Não tem sorte. Toda vez é assim!

Ele caminha pelo saguão com sua pequena bagagem de mão.
--Ei, você!
Não se dá conta de que o chamam.
-- EI!
Ela o alcança.
-- Ora!
-- Um minuto.
Ela respira ofegante.
-- Cigarro!
-- Parei!
-- Tô tentando.
-- ...
-- ...
-- Está bem?
-- Um pouco melhor.
-- Precisa de algo?
-- Eu ronquei?
-- O que?
-- Ronquei?
-- Não!
-- E babar? Babei?
-- Também não.
-- Ufa!
--...
-- Era isso!
-- Ok.
-- Ok.
-- Passar bem!
-- Passar bem.

Um sorriso dele. Um sorriso dela.

Novamente ela ali, sozinha, no meio da multidão que circula em busca de embarques e desembarques.

"Tenho que parar com estes remédios!"

-- Eu dormiria todas as noites da minha vida com você!
Era com ela que ele estava falando. Na verdade, gritando, do outro lado do saguão do aeroporto.
-- O que?
E novamente ele se aproxima dela.
-- Aceita um café?
-- Tenho uma mala extraviada pra encontrar.
-- E dormir comigo a vida inteira?
-- Depois que encontrar a minha mala.
-- Ficarei aguardando.
-- Tem meu telefone.
-- Eu ligo.
-- Espero.

2 comentários:

Rosiellen disse...

Nossa adorei o texto, a casualidade de amor é algo incrivel. Gostei mesmo, parabéns viu.
Bjo

Prii Hellen disse...

Simplesmente Fantástico!!

Tanto tempo sem passar no seu blog... mas é fato q sempre q retorno me admiro com seus textos!! ^^

Esse toque de acaso, meio q destino, uma coisa tão casual, mas q teve um rumo q deixou a história tão linda... rs Mtoo bom!!

Adorei mesmo, sem palavras!! rs..

Mais uma vez, tá de Parabéns!! =)
Bjuxx..