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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

no espelho

Olha o meu rosto, mãe. Olha pra mim e tenta achar na minha cara algum rastro de juventude. Repara na dureza do meu cenho. Repara! Vê em mim as deformações precoces? A fatalidade dos dias descarregada de uma vez sobre minha pele, meus músculos, meus ombros. Meus ombros: olha os meus ombros! A senhora não deve notar, mas cá está o peso de todos estes anos. O peso desta casa, deste ar, destas vidas. Das suas vidas. Não me vira a cara, mãe: Escuta! Quando o pai resolveu ir, ele levou consigo o pouco que eu tinha de meu: o brilho dos meus olhos! Percebe que ele não está mais aqui? Pois é, já faz um tempo que até ele me abandonou... E é por isso que eu tenho de partir...

2 comentários:

Fábio Carvalho Fernandes disse...

Impactante sem deixar de ser sútil e ao mesmo tempo explicito. Como me vi e como me senti?! Foste sem dúvida num lapso de tempo meu espelho...obg

Anônimo disse...

Isso somado as suas risadas! É bom de escutar. Que bons ares criativos e poéticos passem por aí. E talvez quando a gente se olha "no espelho" a gente tenha alguma esperança. E faça.

Bruna B.