Agora que estou aqui, como uma atriz que entra em cena sem ter ensaiado, me ocorre que eu deveria ter pensado em alguma coisa, escolhido melhor as palavras e até ensaiado algumas vezes de frente para o espelho caso tivesse sido possível. Mas você sabe como são essas coisas. Ou pelo menos tem cara de saber. Como é mesmo que se diz? Ímpeto. É essa a palavra. Ímpeto. Sempre gostei da sonoridade desta palavra – ímpeto. Foi assim. A vida nem estava assim, como se diz, complicada. Não, não estava. No bar, era só eu me cuidar, me esquivar dos bêbados e servir-lhes o que me pedissem. Bastava. Era simples. Desde que não me colocassem a mão e, no banheiro, acertassem o buraco daquele vaso, me daria por satisfeita. Iria vivendo. Sobrevivendo. E isso bastava. E no fundo é o que todo mundo quer. É o que eu queria. Ficar por ali, como sempre estive. Os copos eu até gostava de lavar e eram muitos. Eu não me importava. Nem de lavar os copos e tão pouco esfregar o chão. Mas o banheiro – pior: o vaso! Ainda faltava aquele objeto sujo. Mais sujo do que o normal. E meu coração saltava pela boca. Não pelo vaso, mas por aquele cartão, no bolso do meu avental. Nome, sobrenome, endereço e telefone fixados. Ímpeto. Sempre achei o som desta palavra muito bonito sem saber que na verdade isso significava deixar aquele vaso como estava, enfiar toda minha vida nesta mala, pegar o primeiro trem e... Você sabe como são essas coisas. Ou pelo menos tem cara de saber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário