A atriz se posiciona no centro do
palco. Um foco de luz sobre ela.
A ATRIZ:
Havia uma cidade,
senhoras e senhores. Não! Havia não! Há uma cidade, ora bolas. Uma cidade
pequena. Pequena mas pequena mesmo! Destas que não adianta procurar no mapa
mais completo deste mundo ou de qualquer outro porque ela, esta cidade pequena,
não vai estar lá. De tão pequena que ela era. Não adianta também procurá-la por
aí, mundo afora, a olho nu. Já tentaram muitas vezes. Eu mesma já tentei. Já
tentei inúmeras vezes. E cá estou, para afirmar-lhes que, a olho nu, vocês não
a encontrarão. Ora bolas. A primeira casa a direita, na entrada da cidade, é a da
dona Gorda. Dona Berta, aliás. Não posso me esquecer de que o seu nome é dona
Berta, ora bolas. “Que falta de
delicadeza a da senhora! Como assim chamar uma senhora como eu, uma legítima
Bragança, de dona Gorda? A senhora deveria ter mais respeito e não um
comportamento como o desses moleques, ah! Esses moleques! São muitos os
moleques nesta cidade, você não faz ideia. Não faz ideia de como, cada um, me
torturam com este tal de “Dona Gorda”. Como assim, apelidar de dona Gorda uma
legítima Bragança?’ Ela sempre dizia. Os moleques deveriam ter mais
respeito para com ela, ora bolas. Dona Berta morava na primeira casa a direita
da cidade. Morava não: mora. Mora nesta cidade que, a olho nu, ninguém podia
ver. Nem no mapa mais completo deste mundo, ora bolas. Uma verdadeira Bragança.
Já contei quantos são os moleques desta
cidade – não eu. A dona Berta. – já contei um por um e no total são
dezessete. Dezessete moleques que correm pelas ruas da cidade. Minha vontade
– minha não, da Dona Berta – é...
Minha vontade – diga dona Berta. Diga
para nós qual a sua vontade... (silêncio) Dona Berta? (silêncio) Dona Berta... Alguém poderia me dar uma ajudinha aqui com a dona Berta? A
senhora podia se levantar deste chão, Dona Berta... Juro que não vou contar para ninguém que achei o
caminho desta cidade. Eles não vão saber, dona Berta, como chegar nesta cidade
que, de tão pequena... Dona Berta?!
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