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sábado, 26 de janeiro de 2013

conversa para ir-se longe II

Eu vou morrer, disse a menina.
Claro que vai, respondeu o aviador.  
Vou morrer antes do senhor - e lhe explicou - Vou morrer antes de ter metade desse tanto de vida vivida que o senhor carrega dentro do peito e que daqui eu vejo que pesa muito, que pesa um monte, pesa nos seus olhos cansados e no passo arrastado. Ai, como pesa! Vou morrer antes porque, ao contrário do seu peito, o meu peito é caixinha pequena, dessas feitas pra se guardar um tiquinho só de ar. Um tantinho assim - um quase nada. Por isso é bom eu não falar muito, assim, pelos cotovelos, pra não gastar muito do que eu tenho pouco. E isso desde pequena...

...Mas eita danação! Coisa besta dos diabos. Logo eu ter um prazo de vida tão pequeno e essa vontade de sei lá o que tão grande apertada dentro do meu peito, junto com um pouquinho assim de ar. A mãe sempre me diz que se eu deixar essa vontade de lado, essa bobagem de gente besta pra lá, eu bem que conseguiria viver  menos no sufoco, teria mais ar guardado lá, mas eita ideia besta esta da minha mãe (que ela não nos escute), mas você não acha?

Tem também as minhas pernas que, coitadas!, vivem ansiosas pra trilhar um caminho que vá para o oposto desta minha sina que, sei lá porque, foi ser logo minha. Valha-me Deus! Que ninguém nos escute (ai, ai,ai, não gosto nem de pensar nisso)(mas já que pensei, deixa eu te contar), vai que Deus se enganou e nada disso que me cabe tinha de ser meu? Nunca se sabe...Eita danação.  


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