***
Algo me forçou abrir os olhos. Acordei em minha cama, com o coração disparado, suado e nu. A principio não quis me mexer. Minha respiração estava ofegante e eu não queria correr o risco de perder aquelas imagens que ficaram permeando meu sono. Tudo foi tão nítido, tão real que beirava o pálpavel. De repente, senti meu estômago contrair e o máximo que fiz foi tombar minha cabeça para o lado e vomitar. Senti minhas paredes estomacais se encontrarem. Não havia nada dentro dele para expelir. Certamente eu já havia vomitado anteriormente... Estranho: Dormir nu não é do meu costume, ainda mais nestes tempos de frio.
***
-- Nãooooo! - eu berrei. - Não pode ser!
Pedro me olhava fixamente. Sim, havia medo no olhar dele. Eu o deixei tenso.
-- Abaixa esta arma, Tiago! Vamos conversar.
-- Não pode ser, Pedro. - eu disse, com um falso sofrimento. -- Lhe dou uma chance de me falar algo e você vem brincar com a minha cara mais uma vez? Mexer com o meu eu sentimental?Blefar pra cima de mim? O que você pensa que eu sou? Heim? Responde, caralho!
-- Não é brincadeira.
-- A merda, Pedro! Estive com ele não faz duas horas. O professor, a esta altura, deve estar...hum... Pensemos... Tomanhando um licor, junto a sua senhora, depois de um farto jantar. -- minha voz assumiu um tom infantil. -- Como eles formam um belo casal, aqueles dois.
-- Pára com isso!
Não lhe dei atenção. Prossegui:
-- Pena que você e a Vitória não poderão ter um futuro bonito como o presente dos Abravanel. Pelo menos não em vida. Se eu fosse você passava a acreditar agora em vida eterna, céu, Deus, essas coisas. Acho que vai tornar tudo mais fácil pro seu lado...
-- Não é brincadeira.
-- A merda, Pedro! Estive com ele não faz duas horas. O professor, a esta altura, deve estar...hum... Pensemos... Tomanhando um licor, junto a sua senhora, depois de um farto jantar. -- minha voz assumiu um tom infantil. -- Como eles formam um belo casal, aqueles dois.
-- Pára com isso!
Não lhe dei atenção. Prossegui:
-- Pena que você e a Vitória não poderão ter um futuro bonito como o presente dos Abravanel. Pelo menos não em vida. Se eu fosse você passava a acreditar agora em vida eterna, céu, Deus, essas coisas. Acho que vai tornar tudo mais fácil pro seu lado...
***
Meu estômago contraiu mais uma vez. A televisão estava ligada, com o volume no talo. A reporter falava alguma coisa sobre casos de corrupção. Eu não costumo deixar a televisão ligada para dormir. Resolvi abandonar aquela minha inércia e abaixar o volume da tv. Já era o noticiário da noite. Certamente eu dormira o dia inteiro.
***
-- Pára com este sofrimento psicótico. - Ele me disse, fazendo sinal com a mão para eu abaixar a arma. - Ela já é sua de novo! Eu a devolvi, pode procurá-la. Vocês se merecem. Agora, abaixa isso!
-- Ela é minha de novo? Pois bem, agora eu que não quero. Não posso aceitar tamanha solidariedade da sua parte. Mas olha pelo lado bom: Pelo menos lá no céu eles devem ter assinalado esta sua tentativa solidária de me fazer o bem. Você vai ter como argumentar antes de ir direto pro inferno.
-- Isso é pra ser engraçado, Tiago?
-- Ela é minha de novo? Pois bem, agora eu que não quero. Não posso aceitar tamanha solidariedade da sua parte. Mas olha pelo lado bom: Pelo menos lá no céu eles devem ter assinalado esta sua tentativa solidária de me fazer o bem. Você vai ter como argumentar antes de ir direto pro inferno.
-- Isso é pra ser engraçado, Tiago?
-- Cadê a ironia, Pedro. Quero você irônico!
-- Abaixa isso, Tiago. Eu preciso lhe falar sobre o professor.
-- Cala a boca, Pedro! Pára. Pára de blefe. Em mim dói o que você fez. Em mim dói o que ela fez. Por que vocês dois? Por que você?
-- Você quem quis assim.
As lágrimas escorriam pelo meus olhos. Tremia freneticamente. Um passo dele e...
***
Tomei um gole de água. Estava com ressaca. Minha boca estava seca. Só uma coisa me deixava daquele jeito: vinho chileno. Não era hora de analisar qual foi a bebida que me embriagou na noite anterior. Precisava ligar para o Pedro e contar meu sonho maluco. Ele e Vitória ririam horrores da minha história.
***
-- Cara, abaixa este revólver.
-- Não!
***
Voltei para o quarto em busca do meu celular. Ao lado da minha cama estavam as roupas que, certamente, eu usara no dia anterior. Sempre carrego meu celular no bolso da jaqueta.
***
-- Mais vinho na minha taça! Antes de tudo quero fazer um último brinde!
***
Alguém começou a esmurrar a minha porta.
***
Sob a mira da minha arma, o Pedro me trouxe mais vinho.
-- Quer saber, Tiago? Esta sua ceninha em nada me comove.
-- Ah, não?! - tomei um gole do vinho.
-- Não. E sabe por que?
-- Prefiro que você me conte.
-- Porque eu não consigo enxergar em você nenhum sentimento pela Vitória. Nem agora, nem antes. E se você algum dia sofreu de verdade não foi mais que merecido.
-- Quer saber, Tiago? Esta sua ceninha em nada me comove.
-- Ah, não?! - tomei um gole do vinho.
-- Não. E sabe por que?
-- Prefiro que você me conte.
-- Porque eu não consigo enxergar em você nenhum sentimento pela Vitória. Nem agora, nem antes. E se você algum dia sofreu de verdade não foi mais que merecido.
-- Então você não consegue enxergar? Quem sabe isso não lhe ajude?
Repousei a taça em algum móvel. Fui acometido de uma frieza terrível. Movimentei meu dedo no gatilho três vezes. A blusa branca do meu melhor amigo foi, aos poucos, sendo manchanda com um vermelho vivo, no lado esquerdo do peito.
***
Minha jaqueta estava pesada. Havia alguma coisa fria e metálica no bolso onde carrego o meu celular.
Alguém esmurrava a minha porta.
Na tv, uma última notícia era dada e pude escutá-la da sala, enquanto me dirigia para atender o infeliz lá fora:
"O corpo do professor Benjamim Abravanel será sepultado amanhã a tarde, ao lado do corpo do seu filho, Pedro Abravanel, ambos assassinados ontem."
Olhei pelo olho mágico da porta.
Uma dor aguda parecia perfurar meu cérebro. Fechei os olhos e revivi cada passo meu, na noite anterior.
As batidas se tornaram mais fortes. Vozes vieram lá de fora, ordenando que eu abrisse. Senti, mais uma vez, uma contração no meu estômago.
E tudo era muito real; palpável. Fato consumado.
7 comentários:
Nem sei o que comentar. Sério. Ficou muito bom, de verdade!
Gatinho , foi ela .. claro q foi; ela, aquela vaca da Vitoria,ela matou o Pedro ,vc sonhou com tudo isso, ops, vc nao o Tiago rs Pode fazer a sexta parte ,tenho certeza de q neste mato tem muito coelho, vc bebeu demais ... Pensa bem ... Pra mim, FOI ELA!!!!
Uma mistura de sonho e realidade???
Nossa, pior que isso às vezes acontece mesmo!! Muito bem bolado, parabéns!
ADOREI...
MAS PRA MIM AINDA TEM MUITA ÁGUA PRA ROLAR...
SENSACIONAL A HISTORIA ..ADORO HISTÓRIAS INCOMPLETAS ...FATOS INEXPLICADOS COMO A MORTE DO PROFESSOR ...O FINAL É MTO RAPIDO, É MTO VIVO, ELE DA IDENTIDADE PARA A TRAMA. iSSO DARIA UM OTIMO LIVRO !!!!
Uow!
Mto bom Raysner.
Esse jogo com as cenas, ele na ksa dele sozinho e ele com o Pedro é demais. Isso foi o "tchan" da história.
Mas e aq...Quem era Vitória? Pq ela traiu Tiago (se traiu)? E o professor Benjamin dava aula de q (=P)?
...
Simplesmente, PALMAS!
se virar livro eu compro!
adorei!
li td de uma vez só e deu até friozinho na barriga!
parabéns!
Postar um comentário